Onde está o meu olhar?
Nem sempre o pranto existe ou necessitamos de dor para ficarmos entristecidos, ela, a melancolia, simplesmente aparece, sem convite, e se instala em seu olhar. Diante do espelho você percebe que o sorriso sumiu e, de se olhar desiste.
Os lábios ficam retos, não há contornos de alegria. Os dedos ficam duros, perdem a habilidade de acariciar. A pele perde o brilho e os cabelos ficam opacos. É a tempestade da alma que se manifesta, indolente, expulsando os conflitos interiores.
Não é sofrimento, tormento ou lamento. É apenas um vazio. É como se o nada estivesse pendurado nas asas do tempo acenando, ironicamente, para você. Quanto tempo dura essa sensação? Não saberia precisar. Sei, apenas, que dura o bastante para incomodar.
Talvez Cecília Meireles se sentisse assim quando disse: “não sou alegre nem sou triste: sou poeta”. E eu que sou alegre e não sou poeta, sinto-me, neste momento, assim.
E este ficar assim significa que meus olhos perdem a capacidade de olhar o mundo, as coisas. Diante de uma rocha, nada vejo além de uma grande pedra. Olho a lua e é a lua que vejo. Olho a noite e só vejo a escuridão. Olho o céu e nada vejo além das nuvens em movimento.
Onde está a poesia que me fazia ver os sonhos passeando nas nuvens? Seus olhos brilhando na luz do luar? Onde se encontra meu olhar, minha capacidade de ficar encantada com a pedra que cai no riacho desenhando círculos que se assemelham aos sonhos que carregamos no peito?