Fazendo a Diferença
- Que coletividade qual nada, tá doido? Como vão aparecer os gênios, os que fazem a diferença? Você ainda não notou que a humanidade só avançou graças aos diferentes, aos que ousaram?
- Então, me dê um exemplo, basta um pra você me convencer, vou lhe dar essa chance.
- Tá certo, não vou nem apelar e citar Cristo, pois aí é covardia. Vou falar de um de minha área profissional, ele se chamava Beccaria. No tempo dele, na Europa, mil e setecentos e lá vai fumaça, os que cometiam algum crime qualquer eram torturados até confessarem seus crimes. Até os Juízes torturavam. Torturas crudelíssimas. Não havia nenhum respeito ao ser humano. Pois bem, apenas o Beccaria se insurgiu contra esse estado de coisas e criou um processo criminal com certas garantias para o réu, muitas vezes inocente. Esse cara fez a diferença.
- entendi e já estou pensando no Pinel, que acabou com os manicômios e tornou mais humano o tratamento para as doenças mentais, que é um problemão. Sem falar, pra citar o Brasil, daqueles que lutaram arduamente para acabar com a excrecência da escravidão. A tal da coletividade de então achava normalíssima a escravidão dos negros. Joaquim Nabuco, José do Patrocínio e muitos outros também se insurgiram contra isso.
- E você que gosta de futebol, o que seria da seleção brasileira sem um Zizinho, um Garrincha, um Didi, um Pelé? Amarildo, o possesso? Heim?
E aqueles dois amigos, num domingo quentíssimo de janeiro, iam jogando conversa fora e ao mesmo tempo conversa séria, lá no Bar do Roney, em uma cidade qualquer do interior desse Brasilzão!
Foi quando chegou o Zé Cavaco pedindo logo sua caneca de cerveja e já falando maravilhas do Adoniran Barbosa. Havia acabado de ouvir umas melodias pouco conhecidas do grande público, de autoria do velho Adoniran, a propósito dos cem anos de nascimento do compositor.
– acabei de ouvir uma música dele muito engraçada, mas só gravei a primeira estrofe: “Gosto de mulher bonita, mas quando ela está sem calça (paradinha)... comprida.”
O amigo que defendia a diversidade como fator de progresso da humanidade, não deixou a oportunidade fugir.
– Viu só! Quer exemplo melhor do que esse. Atentou pro detalhe? Um pequeno detalhe faz a diferença, amigos! A verdadeira vida está nos detalhes...
- esse exemplo também é de progresso para a humanidade?
- É, talvez não seja, mas que enche a gente de satisfação e alegria e não nos deixa enlouquecer, isso eu tenho certeza!