A Bordadeira

Era conhecida, no bairro, por sua simpatia e por seus
bordados. Atualmente já não aceitava nenhuma encomenda
a artrose estava cada vez pior, conforme a idade avançava...
Mesmo assim, gostava de sentar de frente para a janela e com paciência bordava uma toalha, em ponto cruz, às vezes
só olhava, não bordava nada, outros dias, bordava muito e, não gostava. Vez que outra, recebia a visita de um sobrinho
que passava rapidamente para ver se estava tudo bem, se precisava de algo e, numa dessas ocasiões, perguntou: tia
porque está bordando esta toalha branca, com cruzes negras?
E, para sua surpresa, ela respondeu: sabe, meu filho, o ponto
cruz é o mais fácil e simples que alguém possa bordar e, eu
nunca fiz esse ponto por encomenda, meus bordados eram
elaborados, retratando a beleza da natureza e da vida que eu
via da minha janela antes que a cidade crescesse e no lugar do rio, fizeram esse viaduto, no lugar do parque com suas árvores que abrigavam várias espécies de pássaros e plantas,
construíram esse enorme condomínio.
Levantou-se, estendeu a toalha e olhando profundamente nos olhos de Pedro, disse:
- Está vendo as cruzes em toda volta?
- São as pessoas de braços cruzados, que se formam, sempre que acontece algum acidente, algum assalto,
ou alguma morte por bala perdida na encruzilhada.
- Os que estão no círculo de dentro, são os que fazem
o sinal da cruz!
- E, os que estão sendo feitos para preencher o centro
são os mortos que ficam atirados no asfalto.
- Cruz credo! tia, até semana que vem.


verdades e mentiras
Enviado por verdades e mentiras em 23/01/2011
Reeditado em 10/04/2011
Código do texto: T2747061
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