Qual é a música?
Os meninos de hoje viverão mais de cem anos. Manchete da banca de revista. Com o uso de fones de ouvido a milhão sobrará algum resquício de audição para eles? A conversa girou em torno disso. “Tudo bem que viverão mais de cem anos, mas é possível que estejam surdos bem antes dessa idade. O som é tão alto que a gente identifica qual é a música do lado de fora. Imagino a altura do som nos ouvidos dessas criaturas.” Disse uma das colegas.
Discordei. “Não! Do lado de dentro não soa alto demais.”
Responderam em uníssono. “Mas é porque já estás ficando surda!”
Parece que sou o exemplo vivo da surdez gradual gerada pelos fones de ouvido a que minhas colegas se referiram. Só não estou no rol dos que viverão mais de cem. Mas qual é a música? Qualquer uma que abafe a fala inconsequente das pessoas que dentro do coletivo disparam confissões sobre suas vidas em alto som e fazem ouvir quem queira ou não queira.
Sei que é dessas conversas que se alimentam os bons cronistas, mas a algumas nem mesmo eles iriam aguentar. Outro dia uma senhora falou que estava fazendo exames médicos para investigar uma provável doença abdominal. Bastou para que a tagarela de mau gosto, ao lado, disparasse uma série de desgraças que aconteceram com seus familiares. Que foram “furados de tudo quanto é jeito e nada de se descobrir doença alguma. Eles ganham para isto. Para furar as pessoas”.
Furados estavam os meus ouvidos nesse dia. A bateria do fone acabara e eu tive que ouvir estas e outras da especialista em animar amiga. Como dizem por aí ainda tenho que agradecer por isto, pois para não ouvir pérolas assim eu teria que ser surda.
Os meninos de hoje viverão mais de cem anos. Manchete da banca de revista. Com o uso de fones de ouvido a milhão sobrará algum resquício de audição para eles? A conversa girou em torno disso. “Tudo bem que viverão mais de cem anos, mas é possível que estejam surdos bem antes dessa idade. O som é tão alto que a gente identifica qual é a música do lado de fora. Imagino a altura do som nos ouvidos dessas criaturas.” Disse uma das colegas.
Discordei. “Não! Do lado de dentro não soa alto demais.”
Responderam em uníssono. “Mas é porque já estás ficando surda!”
Parece que sou o exemplo vivo da surdez gradual gerada pelos fones de ouvido a que minhas colegas se referiram. Só não estou no rol dos que viverão mais de cem. Mas qual é a música? Qualquer uma que abafe a fala inconsequente das pessoas que dentro do coletivo disparam confissões sobre suas vidas em alto som e fazem ouvir quem queira ou não queira.
Sei que é dessas conversas que se alimentam os bons cronistas, mas a algumas nem mesmo eles iriam aguentar. Outro dia uma senhora falou que estava fazendo exames médicos para investigar uma provável doença abdominal. Bastou para que a tagarela de mau gosto, ao lado, disparasse uma série de desgraças que aconteceram com seus familiares. Que foram “furados de tudo quanto é jeito e nada de se descobrir doença alguma. Eles ganham para isto. Para furar as pessoas”.
Furados estavam os meus ouvidos nesse dia. A bateria do fone acabara e eu tive que ouvir estas e outras da especialista em animar amiga. Como dizem por aí ainda tenho que agradecer por isto, pois para não ouvir pérolas assim eu teria que ser surda.