Traição **
Ah, a traição... Linguagem mais não verbal que esta? Que de prazerosa, só para o desejo. Uma satisfação imediata, de fato, um alimento sórdido e viciante da volúpia. Talvez, simplesmente a moralmente censurável aventura alternativa à proibição comum a todo ser humano, quer em tempos antigos, quer nas sociedades mais modernas. Mas a traição, uma aventura para poucos, mesmo para os mais corajosos, de recompensadora, só aos mais sortudos. Sim, questão de sorte. Para a maioria destes aventureiros, independente de suas origens, mesmo ao cabo de anos e anos a fio em cada aventura vitoriosa, nada mais fugaz e insaciável que a traição. Por isso mesmo, uma aventura viciante. Um jogo cheio de riscos, sinônimo de ousadia, por esta razão também, um jogo para poucos. E desses poucos, em número menor os que, até o fim de suas vidas, com apenas alguns arranhões por causa das muitas desavenças e mágoas deste jogo do desejo egoísta, ao invés de vazios, pelo contrário: tão cheios de histórias para inspiração maliciosa dos iniciantes e deleite pueril dos colegas de ofício. Mas a traição, esta linguagem não verbal, que de tanta ousadia e ainda por cima tentadora, por outro lado, também igualmente corrosiva e nociva: um veneno para a alma. Sangue quente ou sangue frio? Quente na hora de cada ato de traição, e ao mesmo tempo um recado frio para quem, em casa sozinha e sem o menor consolo de mudança de atitude da parte de seu traidor, na melhor das hipóteses, além da paciência e lealdade insólita, sim, o perdão tão esperançoso. Logo o perdão! Porém, justo? De certa maneira, controverso, pois que recompensa maior para a traição em si do que o doce e cruciante perdão silencioso para o aventureiro destes caminhos tortuosos da volúpia? Nenhuma, talvez. A maior recompensa de todas, maior que o ato em si, a vitória final, portanto. E talvez através deste mesmo ato heroico de perdão que eis a prova cabal da legitimidade da formação de caráter do traidor e da evolução da traição, esta linguagem não verbal, pois assim como a tradição popular: um ato com valor de mil palavras. Palavras sim, mas sem verbo, porque inércia para o coração vazio de caráter e para aqueles de volúpia insaciável. Por isso, assim eis a traição uma fria linguagem não verbal. E por esta razão eis aqui este texto sem verbo algum, conveniente à desalmada traição, esse vampiresco, triste e autêntico desamor. Certamente que sim. Traição, um ato não verbal de desamor.
Publicado em “Mulheres e seus amores”, disponível aqui em formato E-Book.
(publicado em: Palavra é Arte-Narrativas, 2017)
Ah, a traição... Linguagem mais não verbal que esta? Que de prazerosa, só para o desejo. Uma satisfação imediata, de fato, um alimento sórdido e viciante da volúpia. Talvez, simplesmente a moralmente censurável aventura alternativa à proibição comum a todo ser humano, quer em tempos antigos, quer nas sociedades mais modernas. Mas a traição, uma aventura para poucos, mesmo para os mais corajosos, de recompensadora, só aos mais sortudos. Sim, questão de sorte. Para a maioria destes aventureiros, independente de suas origens, mesmo ao cabo de anos e anos a fio em cada aventura vitoriosa, nada mais fugaz e insaciável que a traição. Por isso mesmo, uma aventura viciante. Um jogo cheio de riscos, sinônimo de ousadia, por esta razão também, um jogo para poucos. E desses poucos, em número menor os que, até o fim de suas vidas, com apenas alguns arranhões por causa das muitas desavenças e mágoas deste jogo do desejo egoísta, ao invés de vazios, pelo contrário: tão cheios de histórias para inspiração maliciosa dos iniciantes e deleite pueril dos colegas de ofício. Mas a traição, esta linguagem não verbal, que de tanta ousadia e ainda por cima tentadora, por outro lado, também igualmente corrosiva e nociva: um veneno para a alma. Sangue quente ou sangue frio? Quente na hora de cada ato de traição, e ao mesmo tempo um recado frio para quem, em casa sozinha e sem o menor consolo de mudança de atitude da parte de seu traidor, na melhor das hipóteses, além da paciência e lealdade insólita, sim, o perdão tão esperançoso. Logo o perdão! Porém, justo? De certa maneira, controverso, pois que recompensa maior para a traição em si do que o doce e cruciante perdão silencioso para o aventureiro destes caminhos tortuosos da volúpia? Nenhuma, talvez. A maior recompensa de todas, maior que o ato em si, a vitória final, portanto. E talvez através deste mesmo ato heroico de perdão que eis a prova cabal da legitimidade da formação de caráter do traidor e da evolução da traição, esta linguagem não verbal, pois assim como a tradição popular: um ato com valor de mil palavras. Palavras sim, mas sem verbo, porque inércia para o coração vazio de caráter e para aqueles de volúpia insaciável. Por isso, assim eis a traição uma fria linguagem não verbal. E por esta razão eis aqui este texto sem verbo algum, conveniente à desalmada traição, esse vampiresco, triste e autêntico desamor. Certamente que sim. Traição, um ato não verbal de desamor.
Publicado em “Mulheres e seus amores”, disponível aqui em formato E-Book.
(publicado em: Palavra é Arte-Narrativas, 2017)