O Caratê e a Moderação do Equilíbrio
O valente romano Fabrizzio Fucelli, filho do meu amigo Edoardo, contentava-se mais em explicar o caratê do que o aprender. Mas, logo se via que, na realidade, ele tinha mais aprendido do que explicado. Sabia, com precisão e maestria, cada golpe, numa sequência conveniente e harmônica de um lindo balé, como o envolvimento da dança de capoeira com o bailado de espada dos gladiadores seus conterrâneos ou como o adestrado samurai do belo filme “Depois da Chuva” de Takaishi Koizum, discípulo e ex-assistente de direção do Mestre Akira Kurosawa. Enfim, repetia nos gestos que lutar é uma arte cujos golpes mortais só deveriam ser demonstráveis, quando extremamente necessários. Após vencer nos coliseus do quotidiano, o seu polegar nunca se inclinava, considerando a sobrevivência do outro lutador. Levantava o rival caído mais como um companheiro de luta do que como um adversário. Voltei a Peruggia, onde se radicavam os Fucelli, para visitar meu amigo Edoardo, carinhosamente chamado de Nando. Ele tinha falecido. Apenas revi seu filho que me socializou o luto.
O precioso das explicações de Fabrizzio era falar ser o caratê uma arma perigossíma para quem não soubesse usá-la, seria como uma arma de fogo engatilhada nas mãos de uma criança. E que o carateca deveria adquirir, antes de tudo e em todos os sentidos, o equilíbrio. Evitar lutar induzido pela raiva, pelo ódio, mas simplesmente por esporte ou a serviço do bem e, quando, nas ameaças extremas à vida, proteger-se da morte com proporcional autodefesa. Se o provocador fosse muito fraco, dever-se-ia ter compaixão, não aceitando a provocação e, até humildemente, esquivando-se do combate, sem nada explicar, escapando da roda e do incentivo dos açoitadores, para que não chegasse à prática de golpes fatais.
Há fatos e ações que provocam irritação, como os fura fila, os “fecha-rua” e outros tipos de violência injustificável. Também, sem deixar de ser violência, nos aborrece a insinceridade ou artimanhas dos que a isso se dedicam, destruindo a boa convivência, satisfeitos que ficam com desentendimentos, para proveito próprio nas inevitáveis concorrências da vida, embora esses criem até disputas evitáveis somente para o prazer do fingimento. Há a “ira sagrada”, mas, se nos causam ódio, aconselhável é que nos comportemos com o equilíbrio de Fabrizzio, evitando o uso de golpes fatais. Vale apenas se prudenciar ao ser, sem razões outras, convidado para tomar chá porque, talvez, haja cicuta no aromático jasmim... Ações e fatos como esses levaram Jean- Paul Sartre a filosofar, na França: “L’enfer c’est les autres” ou o que diria por aqui mesmo: “O inferno são os outros”.
O valente romano Fabrizzio Fucelli, filho do meu amigo Edoardo, contentava-se mais em explicar o caratê do que o aprender. Mas, logo se via que, na realidade, ele tinha mais aprendido do que explicado. Sabia, com precisão e maestria, cada golpe, numa sequência conveniente e harmônica de um lindo balé, como o envolvimento da dança de capoeira com o bailado de espada dos gladiadores seus conterrâneos ou como o adestrado samurai do belo filme “Depois da Chuva” de Takaishi Koizum, discípulo e ex-assistente de direção do Mestre Akira Kurosawa. Enfim, repetia nos gestos que lutar é uma arte cujos golpes mortais só deveriam ser demonstráveis, quando extremamente necessários. Após vencer nos coliseus do quotidiano, o seu polegar nunca se inclinava, considerando a sobrevivência do outro lutador. Levantava o rival caído mais como um companheiro de luta do que como um adversário. Voltei a Peruggia, onde se radicavam os Fucelli, para visitar meu amigo Edoardo, carinhosamente chamado de Nando. Ele tinha falecido. Apenas revi seu filho que me socializou o luto.
O precioso das explicações de Fabrizzio era falar ser o caratê uma arma perigossíma para quem não soubesse usá-la, seria como uma arma de fogo engatilhada nas mãos de uma criança. E que o carateca deveria adquirir, antes de tudo e em todos os sentidos, o equilíbrio. Evitar lutar induzido pela raiva, pelo ódio, mas simplesmente por esporte ou a serviço do bem e, quando, nas ameaças extremas à vida, proteger-se da morte com proporcional autodefesa. Se o provocador fosse muito fraco, dever-se-ia ter compaixão, não aceitando a provocação e, até humildemente, esquivando-se do combate, sem nada explicar, escapando da roda e do incentivo dos açoitadores, para que não chegasse à prática de golpes fatais.
Há fatos e ações que provocam irritação, como os fura fila, os “fecha-rua” e outros tipos de violência injustificável. Também, sem deixar de ser violência, nos aborrece a insinceridade ou artimanhas dos que a isso se dedicam, destruindo a boa convivência, satisfeitos que ficam com desentendimentos, para proveito próprio nas inevitáveis concorrências da vida, embora esses criem até disputas evitáveis somente para o prazer do fingimento. Há a “ira sagrada”, mas, se nos causam ódio, aconselhável é que nos comportemos com o equilíbrio de Fabrizzio, evitando o uso de golpes fatais. Vale apenas se prudenciar ao ser, sem razões outras, convidado para tomar chá porque, talvez, haja cicuta no aromático jasmim... Ações e fatos como esses levaram Jean- Paul Sartre a filosofar, na França: “L’enfer c’est les autres” ou o que diria por aqui mesmo: “O inferno são os outros”.