VÍCIO

Confesso, sou viciada, do tipo que precisa de tratamento, só tem um problema não sei se há tratamento para o meu vicio, pois sou viciada em livros, sim é verdade, a mais pura verdade, sou viciada em livros, estranho, talvez, mas veja bem é um vicio bom, cultural, intelectual, entretanto há exceções, já que em meu vicio, leio de tudo, ou quase tudo, normalmente sou do tipo o que vier é lucro.

Não faço muita escolha, quando alguém fala que o livro é bom, eu leio, quando fala que é horrível, também leio, vai que acho bom? Se o livro tem mais de 800 páginas eu leio, só para saber o que tanto tinha para ser escrito, se tem menos de 50, também leio, como alguém tem tanto poder de concisão assim? Se a capa é bonita, chamativa, eu leio, se é feia, leio, se não tem capa, leio também, porque não? Já li livros que faltava o final, triste, mas eu sabia o final, quem não sabe o final do Exorcista? Uma vez lendo um jornal, um cara estava sendo entrevistado, nem me lembro quem, na entrevista foi perguntado a ele qual cena de um livro ele se emocionou, ou alguma coisa assim, nem me lembro mais, enfim, ele disse que era uma parte do livro A Montanha Mágica de Thomas Mann, no dia seguinte fui há biblioteca para pegar o tal livro e ver o que tinha de emocionante, o livro era um verdadeiro tijolo numa capa velha dura, eu li, tinha mais de 850 paginas em letras miúdas, na época posso não ter entendido lá muita coisa, mas ele realmente tinha partes emocionantes, pretendo ler de novo um dia, para entender e também para lembrar, esta é outra parte do meu vicio, releio meus livros preferidos, pior ainda, vibro com tudo como se fosse a primeira vez, meu exemplo mais estranho; reli Dom Casmurro 4 vezes, amo aquela arte o Bentinho descobre ainda jovem que ama a Capitu, é lindo, não entendo como podem não gostar desse livro, é tão lindo, triste, misterioso, cheio de segredos, segredos estes diga-se de passagem que Machado levou para a tumba.

Entro no trem e já olho para o livro que as pessoas estão lendo, é automático, se eu ver só a fonte e a diagramação da pagina, sei se li ou não, pode? Ainda por cima leio o livro da pessoa junto com ela, disfarçadamente é claro, se vejo um livro várias vezes vou até a livraria para ver o que tem de tão interessante.

Consulto a lista dos mais vendidos, que não muda nunca, a não ser para alternar as posições, mas é só para saber o que as pessoas estão lendo, curiosidade, sabe como é.

Não faço distinção entre países, é americano, eu leio, é francês, alemão, russo, japonês, chinês, tailandês, havaiano, sei lá, não importa muito, eu leio, por mais difícil que seja entender o nome dos personagens, ou os lugares que estão, ainda me lembro da dificuldade de ler Crime e Castigo, mal entendia o nome do personagem principal, pior ainda que ele era chamado por outros nomes, e isso era só ele, imagina os outros, por isso os brasileiros ainda são meus preferidos, pelo menos reconheço os lugares e sei pronunciar os nomes.

Entro todos os dias nas livrarias perto do trabalho, mais olho que compro, entro todos os dias nos sites de compras, a procura de promoções e informações sobre futuros lançamentos, é loucura? Muitos acham que já é caso para camisa de força, o que é um exagero, já que todo mundo devia ter um vicio desses. Ler é algo mágico, que nos leva para lugares incríveis, para ver coisas incríveis, para sentir coisas incríveis, palavras são poderosas e os livros são uma prova disso, chorei com a jornada de Jean Valjean em Os Miseráveis, principalmente quando ele encontra a Cosete, ri em Memórias de um Sargento de Milícias, vi a que profundezas podemos chegar em busca da felicidade e do amor ideal em Madame Bovary, percebi que o mundo pode ser mágico em Harry Potter, que vampiros podem ser realmente sanguinários em Sétimo, que mundos diferentes podem existir com a trilogia As Fronteiras do Universo, que o amor é uma coisa poderosa em Orgulho e Preconceito, que o assassino dorme no quarto ao lado com Sherlock Holmes, enfim que a vida é muito melhor, com uma prateleira cheia.

Mas há um, porém, meu vicio é caro, livro não é barato, com um pouco de pesquisa consegue-se verdadeiros milagres e a internet torna acessível em momentos de desespero, mas a exceções, caras, tão caras que o jeito é esperar por uma promoção que pode não vir ou parcelar, para isso serve o cartão de credito, sempre pronto a dar uma ajudinha, seja para enforcar ou salvar, depende. Na ultima bienal, me enforquei e ainda pagos os pecados, mas sem arrependimento, entre tantas coisas caras consegui alguns livros pela metade do preço, se tivesse mais dinheiro, tinha levado metade da editora para casa, quem sabe ano que vem?

Meu sonho é um dia acordar e descobrir que todos os livros custam R$ 1,00, sonhar que estão de graça já seria pedir muito.