Receitas de Mulheres 3




Sentava-se à mesa somente depois que a mulher se sentasse e era incapaz de passar à frente dela, fosse em casa, no restaurante, na loja... E não admitia. Não. De forma alguma, admitia que outro homem fizesse algum favor à sua dama. Ele haveria de fazer primeiro.

Na rua? Era o primeiro a querer andar de mãos dadas com a mulher. Tinha orgulho disso. Na hora de dormir? Só cerrava seus olhos depois que visse os dois olhinhos bem fechadinhos daquela que ele tanto admirava. E, por diversas vezes, para que sua heroína dormisse mais tranquilamente, ele contava histórias, fazia-lhe carinho nos pés...

Eis que num belo dia (bela tarde, melhor exemplificando), a mulher, debruçada em sua escrivaninha, absorta em seus pensamentos e rabiscos, foi bruscamente surpreendida por um inseto. Ele – não o inseto, mas o cavalheiro – também absorto em seus pensamentos, foi igualmente surpreendido pelos gritos da mulher. Correu.
Deparou-se com aquela figura feminina no topo da escada que dava acesso ao mezzanino.

A mulher – olhos esbugalhados. O inseto verde – não se sabia se um gafanhoto ou uma esperança – que voava descontroladamente – acabara de pousar no corrimão, ao lado do degrau por onde ela teria de passar. A dama, entre palavras desconexas, e ameaças de que se jogaria lá de cima, parecia desfalecer... quando, de súbito, o inseto foi capturado. O herói, parado ao lado da mulher já praticamente desfalecida, anunciava.
_ Pronto. Pode descer.

Ela o observou. Risos de satisfação cobriram-lhe o interior. E sentiu-se feliz.
Abraçou-o, emocionada.

_ Você é um verdadeiro cavalheiro. Quando crescer, vai fazer qualquer mulher feliz.
E ele, peito inchado.
_ Obrigado, mamãe.
E correu para brincar lá fora – o herói de apenas 5 anos.


(Adriana Luz)