PORQUE VOCÊ NÃO MORRE...?

TIJOLO UM ALCOOLATRA QUE SE TORNOU UM MISTICO DE MISÉRIA HUMANA.

Porque você não morre?

– Com esta frase, a ultima, de tantas outras criadas por ele ao longo de sua peregrinação pelas ruas do nosso pacato distrito-, “Tijolo” encerrou sua carreia de alcoólatra cômico. Aos 19/01/11 dia em que mais de trezentas pessoas se reuniram, comparecendo ao seu velório, para prestar-lhe a ultima homenagem, acompanhando-o até o momento em que o viram abraçar a terra vermelha que o viu nascer, e o recebeu para sua ultima morada.

Sua passagem na historia da comunidade ficou marcada, pelos valores e os princípios familiares arraigados no seu intimo, um testemunho vivo do seu valor como ser humano. Talvez não haja uma única pessoa que não tenha sido alvo da sua absurda fraqueza, mas que em contra partida, não o tenha perdoado.

Com suas aulas de português. Tirando de sua sensibilidade, admiráveis expressões escapadas das fendas de suas reservas filosóficas, ele sempre fez a diferença na entre safra de sua loucura. Muitas vezes estava ele corrigindo alguém na forma de pronunciar. Ao ouvir alguém alheio a gramática, ou até mesmo propositalmente dizer. – Eu vou na missa! Logo vinha sua resposta - oh seu burro -, ocê vai à missa. Missa não é cavalo pra ocê montar nela aprende a conversar seu besta! Embora com o procedimento muitas vezes inconveniente, foi tratado solidariamente com dignidade, nos últimos dias de sua vida. Superou sua enfermidade com o carinho da comunidade, mas foi vencido pela morte deixando no vazio das ruas um casal de cachorros que o adotou nos últimos tempos atraídos pela comida que lhe era doada e que era dividida por ele.

Era admirável a forma como ele tratava as criancinhas, mesmo em seus momentos de fúrias, a criança tinha por ele um tratamento à parte.

Para os adultos, seus algozes ou não, ele sempre tinha um palavrão na ponta da língua. Inconveniente ao extremo se tomou no campo onde elementos inescrupulosos cultivaram o bel prazer, alimentando a fraqueza que deteriorou sua mente, fazendo do homem um espectro de miséria humana.

Tratava seus animais com o memo gesto que hoje nos conforta, pela tranqüilidade de não tê-lo deixado si quer um dia sem se alimentar. Seus animais hoje perambulam pelas ruas privados de sua presença e mergulhados em solidão. Talvez os únicos com o maior sentimento de paixão pela perda do seu ídolo.

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 21/01/2011
Reeditado em 18/10/2011
Código do texto: T2743208
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