Deus mecânico.

Deus estava no elevador quando um casal enamorado adentrou no ambiente cúbico.

Os pombinhos não enxergaram “o todo poderoso” que sentiu no ar o odor de sexo que exalava de seus poros e não demorou para que eles se enlaçassem trocando salivas, até que a menina se retraiu e apontou sem jeito para o canto do transporte. Justo onde se encontra invisivelmente “o criador”.

Nesse instante “o poder supremo” pensou: “sabem que vejo tudo, que estou em todas as partes, principalmente em suas consciências e isso os inibe em cometer atos vulgares, errôneos e danosos”.

Rapidamente o casal se recompôs, ajeitaram a roupa, o cabelo e deixaram o veículo com sobriedade.

Noutro momento nosso criador adentrou num banco 24 horas e constatou um prenuncio de assalto e quando decidiu bafejar palavras edificantes no ouvido dos assaltantes foi surpreendido mais uma vez.

Os salafrários apontaram para o alto, acima da cabeça de Deus que suspeitou.

Ora, esses também me enxergaram! Mas como?

Questionou “o pai de todos” enquanto vasculhava surpreso ao seu derredor e constatou na parede, um metro acima de sua cabeça um pequeno aparelho para qual os malfeitores olhavam inibidos e desistiram de realizar o crime.

Deus olhou firme para o pequeno aparelho, examinou-o minuciosamente e prosseguiu carregando consigo algumas interrogações sobre o outro Deus que ele presenciou corrigir os atos errôneos dos humanos.

Dessa vez ele estava em meio ao trânsito borbulhante onde um carro com três jovens atropelou uma senhora idosa. O pânico dominou os rapazes do carro. Um gritou apavorado:

-vamos embora, vai dar problema nós bebemos!

O motorista engatou a marcha esbaforido e vociferou:

-vamos deixar essa velha pra lá, vamos nessa!

Antes de dar a partida o terceiro gritou com voz receosa.

-olha a câmera ali! Para! não sai com o carro! vamos socorrer a coroa.

E mais uma vez tudo se resolveu como manda o bom senso, a justiça e a ética.

“O arquiteto do universo” observou os três rapazes socorrendo a idosa e ficou a meditar:

“Criaram um Deus mecânico. Por eu não gostar de vestir carne eles não me respeitam. Não basta saber que existe punição, eles precisão enxergar aqueles que o condenaram, não basta saber que eu fiscalizo incessantemente suas atitudes, seus comportamentos e pensamentos, eles precisão ver que estão sendo fiscalizados. Oh! Como meu amado Tomé possui seguidores!”

E prosseguiu em seus questionamentos:

“Não vejo os homens pedindo a esse novo deus: saúde, paz, equilíbrio, sabedoria, milagres...

Esses pedidos são dirigidos a mim. Suas lamúrias, suas inseguranças, seus medos, seus desejos... Somente através dessas necessidades é que eles lembram-se de minha existência. Nesses momentos, mesmo sem possuir corpo eles creem em minha existência.

Bom, como esse outro deus tem colaborado com meus propósitos, vou influenciar aos engenheiros, aos governantes do meu planeta para que disseminem muitos e muitos desses deuses eletrônicos, pois lamentavelmente grande parte da humanidade ainda precisa se sentir ameaçada para evitar um ato maléfico. Não basta que eu acuse em sua mente qual a melhor conduta, faz-se necessário que visualizem a chibata”.

Depois de toda essa reflexão, o verdadeiro Deus resolveu descansar e para não correr riscos procurou um lugar seguro, onde pudesse descansar sossegado. Resolveu aquietar-se junto ao seu filho, agigantado e petrificado no alto do corcovado, onde seus sósias mecânicos o fiscalizam, evitando que vândalos o danifiquem.

Paz e luz.