On kô tô?
Em novembro de 2010, quando estava afastado do Recanto das Letras, por motivos familiares, circulou entre os escritores o jogo dos sete. Bem interessante esse jogo, pois nas respostas do pessoal a gente pode apreciar as qualidades e os “defeitos” de alguns amigos diletos.
Botei atenção nas respostas do mineiro Roberto Rego. Fiquei impressionado em saber que ele é 99% mineiro. Mineirão “bão”, mesmo! Alguém dirá: “Mas porque ele não é 100% mineiro?” Por uma resposta que ele deu no quesito confiança. Neste particular ele confessa que acredita facilmente nas pessoas, o que eu acho, particularmente, sua maior virtude, embora seja uma atitude perigosa, convenhamos. Aí ele perdeu um pontinho para a mineirice, pois segundo vejo os mineiros falarem, os mineiros são desconfiados. Drummond, Sabino, Otto Lara Rezende não me deixam mentir. E nesse particular me identifiquei totalmente com o nosso Robertão, pois também tenho esse “defeito”. Costumava dizer aos meus colegas de trabalho que isso era de nascença, que não tinha jeito. Ao que eles retrucavam:- Pois é, mas você é demais, chega a dar as costas para o inimigo. É isso mesmo, tenho uma certa ingenuidade congênita.
Mas esse papo todo sobre o jogo dos 7 e a mineirice é pra dizer que, assim como todos nascem Flamengo, mas alguns degeneram, todo brasileiro tem algum índice de mineirice. Afirmo isso por experiência própria, afinal, eu mesmo no Rio de Janeiro, no meio daquela cariocada toda, era chamado de “mineirinho”. Explico: costumo dizer que sou manauoca, isto é, nascido em Manaus e criado e educado no Rio, desde os 05 anos de idade, mas com alto índice de mineirice. Por quê isso? Não me perguntem, não sei explicar.
Segundo li num site de uma mineira, tenho aproximadamente 70% de mineirice. Como posso atestar? Fácil, anote aí: 1.- meu lugar preferido na casa é a cozinha e essa preferência vem desde criança. Não tem lugar mais aconchegante que a cozinha. É lá que vou encontrar o delicioso café, o pão de queijo feito em casa. E o melhor de tudo, onde contamos os “causos” mais engraçados. E tem que ser na cozinha, porque não tem solenidade, não tem formalismo e podemos até ficar descalços, o que não é possível numa sala de jantar, vôte...; 2. – adoro ditados populares e o primeiro que conheci aprendi do meu amigo mineiro Expedito, lá de Viçosa, qualquer coisa que falávamos, dizia ele: - Não paga a pena, Gilberto! Custei a entender esse ditado lá no Rio, o carioca nunca fala esse ditado . Pena lembra sofrer e o carioca detesta sofrer. Mas continuemos. 3.- Adoro ouvir ou ler sobre causos, que não são necessariamente piadas, mas estórias diferentes, curiosas, engraçadas, seja de professora, do vizinho, da escola, de médico e por aí vai; 4. Eu só me arrisco quando tenho certeza. Quer faceta mais mineira do que essa excessiva cautela? 5. Detesto desperdício. Outra característica mineira, não confundir com pão-durismo. Ele é econômico, não pão-duro. 5. Tomar banho de mangueira no quintal, muito melhor que o chuveiro do banheiro, êta trem bom! 6. Gosto muito de praia, lógico, e fui “rato de praia”, mas uma montanha é especial pra mim.
Bem, vou parar por aqui, senão exagero, e vão dizer que sou mineiro da gema, o que não seria verdade. Mas também não é mentira que adoro as coisas simples, as coisas naturais, como todo bom mineiro.
Ser mineiro é isso, gente. É um estado de espírito, uma maneira de encarar a vida, uma filosofia especial, curtindo a simplicidade e dando atenção às tradições que merecem ser conservadas.
Pra finalizar, ia me esquecendo que o mineiro também adora abreviar e inventar palavras .
É possível que perguntem onde afinal vive esse cara que nasceu em Manaus, foi criado no Rio e tem muito de mineiro. On kô tô? Bem, não é à toa que vivo hoje bem pertinho de Minas, numa cidade que faz fronteira com a cidade de Palma, vindo depois Miraí, a cidade de Ataulfo Alves, lembrada outro dia pelo também bom mineiro Marcio Felix, primo legítimo do Roberto, e meu primo adotivo, unidos que somos, pelo meu lado mineiro e pelo lado carioca dele.
Pronto, confissão completa, todos já sabem donde ovim, on kô tô e só Deus sabe proncovô!