Mudança dos ventos (EC)
Ontem eu fui a um ensaio. Não um ensaio qualquer. Era o ensaio de um velório encomendado por um amigo. Meu amigo é dessas almas antigas que hoje não nascem mais e não se acanha de viver na contramão do mundo novo. Ele se diz comunista, não daqueles que comem criancinhas; não, que o nome disso é pedófilo. Mas na sua filosofia de vida “comuna” é quem precisa de muito pouco para viver e ainda divide esse quinhão com quem mais precisa.
Assim, meu amigo recebe e envia cartas via área por avião através do bom e velho sistema de Correios. Nunca comprou, aceitou ganhar ou usou um celular. Seu telefone seria ainda o pretão estridente de cordão de prata se a Companhia Telefônica não tivesse provado que aquele aparelho de cem anos não funciona mais na era digital. Sua preferência é por escutar rádio e ler o jornal, que por ele ainda se chamaria pasquim.
Quem me dera que todos os velórios fossem tão divertidos. Causos foram regados a chá e café, com degustação de biscoitos, bolos e até cuscuz que algumas senhoras haviam trazido. O candidato a morto resolveu discursar e o fez com tanta ternura que o riso foi substituído por lágrimas, mas dessas benfazejas. Lágrimas que dão certeza de sermos testemunhas de uma vida bem vivida. Chegou a vez de irmos embora e ninguém queria ir.
Bom, quem não é visto não é lembrado... Não é que a diretora da peça não aceitou a encenação?! Foi assim que hoje comparecemos todos novamente para aquele que seria o seu último ato em nosso meio. Hoje, meu amigo antigo, leve de apegos como um passarinho, está por aí... Rindo-se de quem pensa que muda desregrado como mudam os ventos.
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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Mudança dos Ventos
Saiba mais, conheça os outros textos:
http://encantodasletras.50webs.com/mudanca.htm
Ontem eu fui a um ensaio. Não um ensaio qualquer. Era o ensaio de um velório encomendado por um amigo. Meu amigo é dessas almas antigas que hoje não nascem mais e não se acanha de viver na contramão do mundo novo. Ele se diz comunista, não daqueles que comem criancinhas; não, que o nome disso é pedófilo. Mas na sua filosofia de vida “comuna” é quem precisa de muito pouco para viver e ainda divide esse quinhão com quem mais precisa.
Assim, meu amigo recebe e envia cartas via área por avião através do bom e velho sistema de Correios. Nunca comprou, aceitou ganhar ou usou um celular. Seu telefone seria ainda o pretão estridente de cordão de prata se a Companhia Telefônica não tivesse provado que aquele aparelho de cem anos não funciona mais na era digital. Sua preferência é por escutar rádio e ler o jornal, que por ele ainda se chamaria pasquim.
Quem me dera que todos os velórios fossem tão divertidos. Causos foram regados a chá e café, com degustação de biscoitos, bolos e até cuscuz que algumas senhoras haviam trazido. O candidato a morto resolveu discursar e o fez com tanta ternura que o riso foi substituído por lágrimas, mas dessas benfazejas. Lágrimas que dão certeza de sermos testemunhas de uma vida bem vivida. Chegou a vez de irmos embora e ninguém queria ir.
Bom, quem não é visto não é lembrado... Não é que a diretora da peça não aceitou a encenação?! Foi assim que hoje comparecemos todos novamente para aquele que seria o seu último ato em nosso meio. Hoje, meu amigo antigo, leve de apegos como um passarinho, está por aí... Rindo-se de quem pensa que muda desregrado como mudam os ventos.
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