Liquidando Medos
Sou um apaixonado por certos avanços tecnológicos. Dentre eles, destaco o controle remoto.
Pode parecer estranho, a quem tem menos de 25 anos, que se elogie tal aparelho. Aos que transitam por tal faixa ele parece existir de todo o sempre. Não foi bem assim: nós, os preguiçosos, precisávamos nos levantar do aperto bom do sofá toda vez que um canal devia ser mudado. Exercício difícil, que muitas vezes nos levava a acomodar na mesma estação perpetuamente.
Um dos hábitos que cultivo desde a tenra infância é a de notívago do vídeo. Adoro assistir filmes de madrugada. No silêncio e cumplicidade da noite, um bom suspense ou policial sempre vieram a calhar. Gostava também de séries que nos conduziam a pensamentos além da imaginação. Em uma dessas minhas noitadas, assisti ao interessante delírio de um escritor.
Ele era assombrado por duendes. Perseguido sem piedade, seus textos destruídos, sua geladeira assaltada. Todo o seu vestuário foi queimado. O pior é que ninguém acreditava no infeliz. E você acreditaria se alguém lhe dissesse que duendes saídos do nada transformam sua vida no inferno? Bilhete seguro a uma casa psiquiátrica de internação compulsória.
Nosso amigo não sabia mais o que fazer. Passou então a conviver com os monstros. Chegava em casa, um verdadeiro pandemônio. Pegava uma cerveja no que restou da geladeira. Sentava no semidestruído sofá. A sala lembrava os mercados iraquianos depois de mais um atentado. Passou a reparar que sua máquina de escrever, naquele tempo era assim que se escrevia, permanecia intocável. Ao lado, a pilha de papéis também não era dilacerada pelos verdugos. Eram os únicos objetos inteiros da residência. Sentou-se em uma cadeira e começou a escrever sobres os seus perseguidore. Foram desaparecendo um a um. Matou-os a todos, depois de terminar o estranho conto.
Descobri que podia fazer o mesmo. Todos carregamos nossos traumas. Sejam eles da infância, da juventude, da maturidade ou da idade da experiência total. Precisamos extermina-los ou transformam nossa vida no pior dos mundos. Comecei a escrever sobre os meus vampiros, meus carrascos e sobre cada esqueleto que guardava em meu armário.
De maneira incrível, a cada escrita sobre um deles, tornam-se menores, menos influentes em minha vida. Alguns estão hoje disfarçados em forma de contos, espalhados pelo Brasil, concorrendo a prêmios incertos. Outros ainda guardo nos arquivos de minha máquina, prontos para sair quando eu estiver maduro o suficiente para liberta-los. Escreva sobre as suas assombrações e elas irão desaparecer.
Uma prima certa vez me contou que sempre sonhava com um anão. Ele a perseguia. Sugeri na época que o enfrentasse, que o expulsasse de seu sonho. Sugiro agora que ela escreva sobre ele. A técnica de eliminar traumas funcionou comigo. Não sei se funcionará com você. Não custa tentar. Procurar limpar a casa mental é um exercício libertador. A outra alternativa que lhe resta é dividir cada espaço de sua vida com os mesmos, eternamente...
Sou um apaixonado por certos avanços tecnológicos. Dentre eles, destaco o controle remoto.
Pode parecer estranho, a quem tem menos de 25 anos, que se elogie tal aparelho. Aos que transitam por tal faixa ele parece existir de todo o sempre. Não foi bem assim: nós, os preguiçosos, precisávamos nos levantar do aperto bom do sofá toda vez que um canal devia ser mudado. Exercício difícil, que muitas vezes nos levava a acomodar na mesma estação perpetuamente.
Um dos hábitos que cultivo desde a tenra infância é a de notívago do vídeo. Adoro assistir filmes de madrugada. No silêncio e cumplicidade da noite, um bom suspense ou policial sempre vieram a calhar. Gostava também de séries que nos conduziam a pensamentos além da imaginação. Em uma dessas minhas noitadas, assisti ao interessante delírio de um escritor.
Ele era assombrado por duendes. Perseguido sem piedade, seus textos destruídos, sua geladeira assaltada. Todo o seu vestuário foi queimado. O pior é que ninguém acreditava no infeliz. E você acreditaria se alguém lhe dissesse que duendes saídos do nada transformam sua vida no inferno? Bilhete seguro a uma casa psiquiátrica de internação compulsória.
Nosso amigo não sabia mais o que fazer. Passou então a conviver com os monstros. Chegava em casa, um verdadeiro pandemônio. Pegava uma cerveja no que restou da geladeira. Sentava no semidestruído sofá. A sala lembrava os mercados iraquianos depois de mais um atentado. Passou a reparar que sua máquina de escrever, naquele tempo era assim que se escrevia, permanecia intocável. Ao lado, a pilha de papéis também não era dilacerada pelos verdugos. Eram os únicos objetos inteiros da residência. Sentou-se em uma cadeira e começou a escrever sobres os seus perseguidore. Foram desaparecendo um a um. Matou-os a todos, depois de terminar o estranho conto.
Descobri que podia fazer o mesmo. Todos carregamos nossos traumas. Sejam eles da infância, da juventude, da maturidade ou da idade da experiência total. Precisamos extermina-los ou transformam nossa vida no pior dos mundos. Comecei a escrever sobre os meus vampiros, meus carrascos e sobre cada esqueleto que guardava em meu armário.
De maneira incrível, a cada escrita sobre um deles, tornam-se menores, menos influentes em minha vida. Alguns estão hoje disfarçados em forma de contos, espalhados pelo Brasil, concorrendo a prêmios incertos. Outros ainda guardo nos arquivos de minha máquina, prontos para sair quando eu estiver maduro o suficiente para liberta-los. Escreva sobre as suas assombrações e elas irão desaparecer.
Uma prima certa vez me contou que sempre sonhava com um anão. Ele a perseguia. Sugeri na época que o enfrentasse, que o expulsasse de seu sonho. Sugiro agora que ela escreva sobre ele. A técnica de eliminar traumas funcionou comigo. Não sei se funcionará com você. Não custa tentar. Procurar limpar a casa mental é um exercício libertador. A outra alternativa que lhe resta é dividir cada espaço de sua vida com os mesmos, eternamente...