Hoje dia de tristeza. Dia de cão. Amanhã poderei ser feliz.

Hoje dia de tristeza. Dia de cão. Amanhã poderei ser feliz.

Andei infeliz pelas ruas, chorei baixinho, enxovalhado por dentro e por fora.

Corria meio de lado, ofegante com a língua pra fora. Estava limpinho com uma bonita coleirinha vermelha contrastando com meus bem aparados e sedosos pelos brancos.

Quero crer que ele tenha deixado o portão aberto e saí em desabalada correria pela rua.

Não posso, não vou acreditar que tenha me abandonado no parque, sozinho e desamparado. Após uma briga do casal. Não faria isto.

Nunca tinha andado sozinho, sempre ao lado deles, preso a coleira e a poucos metros. A todo instante olhava para vê-los. Tinha medo de me perder, ter que perambular pelas ruas, passar frio, fome e judiação.

Farejei todos os cantos para encontrar o cheiro deles, cada milímetro por onde passei, mas nada, então continuei correndo enfrente. A ânsia de reencontrar o caminho de casa me levou cada vez mais longe.

Estava cansado.

Parar não podia. A última vez que parei levei chutes de um humano. Um bem grande, devia ter uns cinco metros de altura, quase esbarrava no céu.

Tinha o tamanho do dono da minha casa. A dona era um pouco menor e sua filha menor ainda.

Quando ele estava em casa, eu dormia no quintal, mas quando não estava elas me levavam para dentro, às vezes até dormia na cama com elas.

A dona era boazinha, curava meus machucados quando ele me batia, chutava. A menininha dizia baixinho nas minhas orelhas para não ligar para ele, que tudo aquilo era ciúmes, pelo amor que elas me dedicavam.

Eu gostava delas, mas gostava também dele, tanto que minutos após levar chutes, já esquecia e corria atrás dele abanando o rabinho.

O sol estava abaixando no horizonte a noite ia chegar.

Estava muito cansado. Não parei na esquina para atravessar a rua, fui pego por um carro que corria e não conseguiu parar.

Fui jogado próximo ao meio fio. Gritei, doeu.

Meu sangue escorreu manchando os pelos brancos. Alguém me socorreu. Adormeci.

Acordei num lugar cheio de cachorrinhos abandonados, cada um com uma estória diferente, todos aguardando um lar.

Venha me buscar.

Estou esperando para dar muito amor e carinho.

Antonio Fernando Ribeiro
Enviado por Antonio Fernando Ribeiro em 20/01/2011
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