O BRASIL NAS PÁGINAS DO "LE MONDE"

Ainda que estejamos nas páginas internacionais, não só de glórias se faz notícias.

Tenho por hábito dar uma passeada nos telejornais da nossa televisão aberta e me impressiono como cada emissora televisiva retrata um país diferente, quando o assunto é o nosso Brasil.

Porém a TV cultura de São Paulo tem um show de jornalismo informativo e questionador, verdadeiros debates de notícias, nos quais costumam participar expoentes do nosso mundo cultural e universitário.

Foi assim que, noite dessas, eu que ultimamente ando escrevendo muito movida por forte indignação frente ao tudo que vemos, mas que temo parecer injusta nas minhas avaliações, vi naquele jornal um professor da UFSCAR dizer que anda triste porque percebe que a sociedade perdeu o poder de se indignar.

Quando é solicitada a reagir, aciona a solidariedade e...tudo vai caindo no esquecimento.

É a pura verdade. Cheguei a escrever que se tivéssemos mais cidadania não precisaríamos de tanta solidadriedade...

Então, logo na programação seguinte, éramos informados de que a tragédia do Rio de Janeiro ganhava as páginas do jornal " Le Monde".

O que me impressionou na reportagem do jornal francês foi a capacidade com a qual OS FRANCESES fazem uma sinopse muito perfeita de toda a nossa crônica situação de descaso que tanto contribuiu para a barbárie social que tristemente registramos na nossa história e que ceifou aproximadamente mil vidas!

Críticas citariam a "incapacidade de prevenir e gerenciar tragédias".

Aliás, para que temos o tal do MINISTÉRIO DAS CIDADES?

Alguém saberia responder?

Ali, os jornalistas franceses enumeravam todas as nossas dificuldades em gerir um crescimento urbano desordenado e negligenciado de anos a fio, e atentem para o detalhe, também falavam da participação eleitoreira e populista dos governos neste nosso atual caos urbano que tem como foco principal a ocupação de áreas de risco sob os olhos desviados do poder público...que sonha com as urnas.

Fiquei atônita.

Eu que achava que minhas sensações de cidadã poderiam ser equivocadas, aliás, diante de certas situações às vezes torço para me equivocar mesmo, cheguei à conclusão de que, o mesmo mundo que tanto aplaudiu certo populismo na nossa política e nas nossas relações internacionais históricas, a bem da verdade, também enxerga os bastidores deploráveis das tantas tragédias, embora também tire proveito político do governos populistas.

Eu que sempre me perguntei se o "primeiro mundo" de fato aplaudia "conscientemente" certos discursos e tantas dádivas, agora sim , obtive a minha resposta. O mundo também sabe sim, e a pouca cidadania brasileira não está falando sozinha.

Em política não há diferença alguma de território, o que conta são os tantos interesses, ainda que muitas vidas rolem anonimamente pelos ralos da insensibilidade e da irresponsabilidade.

Não foi esses mesmo primeiro mundo que nos elegeu como aptos a cediar os encontros desportivos mundiais?

Que estranho...

Àquele professor da UFSCAR, aqui deixo uma simples mensagem, a de que, pontualmente, a indignação ainda tem o seu espaço, ainda que seja, solitariamente, num pequeno verso dum poema esquecido.

***

Publicado no Recanto das Letras em 18/01/2011

Código do texto: T2736915

EU TAMBÉM NÃO SABIA...

(MAVI)

"Eu não sabia"!

Que num tão castigado chão

Ainda pulsaria um aflito coração.

Qual um grito de agonia,

Entre as falas da euforia,

Um canto de comoção

Sob sórdida evasão...

Como, então, eu saberia?

Dos tantos cacos espalhados,

Aos pedaços os meus anseios!

Num cenário devastado,

A esperança de joelhos...

-Juro que também eu não sabia!

Do mundano das esquinas,

Da minha bandeira estremecida!

Da pobre criança maltrapilha!

Da droga tão guarnecida,

Do pedinte abandonado

Do estômago fidelizado!

Do doente ironizado,

Do trabalho soterrado...

Do chão negligenciado

Do inferno arquitetado.

Eu sequer imaginaria...

Que também me perderia

Na tragédia soterrada,

Pelos deuses disfarçada!

Os de perene dinastia!

Quem acreditaria?

No odor dos bastidores,

A boiar nos arredores...

Da palavra tão macia!

A esconder tantos horrores.

Eu também degustaria...

Da fala firme e traiçoeira,

Da mão que acolhe e bombardeia,

Da última esperança, a derradeira!

A sucumbir na História inteira.

Eu sequer aceitaria!

A bela Pátria tão amada

Iidolatrada e usurpada,

Soterrada em armadilha.

Sequer desconfiaria!

E sem saber eu, todavia,

No meu castigado chão

Certo dia ecoaria...

Um resto de coração.

***

A CASA

VNÍCIUS DE MORAIS

(Parafraseando nossa dura realidade, a de construção de tantas fantasias...)

Era uma casa muito engraçada, (hoje, nada engraçada!)

Não tinha teto, não tinha nada...

Ninguém podia entrar nela não!

Porque na casa não tinha chão.

Ninguém podia dormir na rede,

porque na casa não tinha parede

Ninguém podia Fazer pipi

porque pinico não tinha ali.

MAS ERA FEITA COM MUITO ESMERO

NA RUA DOS BOBOS, NUMERO ZERO.