UM INCENSO QUE AFASTE FANTASMAS
Quando o amor acaba é assim. Só resta o nada. Só o peso morto do que poderia ter sido. Só o corpo vago do que eu era quando lá estive e não me viste.
Se a ti faz falta culpado, que seja eu. Não me importa, ao contrário. Faz-me bem saber que sobrevivi a tudo o que me matava e eu não sabia. Tomo para mim a autoria deste fim, que de tão anunciado, nem nos brinda com a graça da surpresa.
Vai-te embora. Leva a certeza de que todos os pedaços do que sobrou disto, a que nem sei como chamar, são todos teus.
Eu fico com o que sempre foi meu. Meu amor tem outro nome. Meu amor não passa fome, não morre à míngua. Não quero cacos, nem estilhaços, nem falas perdidas. Que se enterrem contigo todos os bocados de quando te quis por inteiro. Não vestirei esse luto.
Da minha boca nenhuma palavra. Nem culto, nem tributo, nem lamento.
Talvez música suave, das que acalentam almas feridas. Talvez um hino que celebre a vida. Choro não. Vela não. Um incenso que afaste fantasmas. E só.
Para a rodada de crônicas do blog
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