Descobrindo a Cruz
A minha vida inteira eu passei presa em um quarto escuro sem me dar conta disso. As paredes mostravam paisagens lindas, mostravam um mundo de acordo com os meus pensamentos, um mundo que existia apenas na minha mente. Nada me faltava, era o que eu pensava. As paredes me enganavam.
Contudo, nesse quarto escuro e sem portas havia uma pequena janela no alto de uma parede. Mas era tão alta que eu via apenas o céu azul; mas as paredes também mostravam um céu azul e eu o achava tão real quanto o céu que a pequena janela me deixava ver.
Com o tempo, o que as paredes me mostravam já não me satisfaziam, o vazio daquele lugar me envolvia cada vez mais; eu fui me dando conta de como aquele quarto era frio e escuro. Foi quando percebi como a luz que entrava por aquela janelinha era intensa.
Fiquei por alguns instantes contemplando o céu pela pequena janela quando de relance vi a imagem de uma cruz; foi, porém, tão rápida que pensei ter sido uma alucinação. As paredes já haviam me mostrado uma cruz, mas sempre com um homem ensangüentado e triste preso nela; essa estava vazia e brilhara tanto que quase me cegou.
Permaneci olhando para a janela na esperança de ver aquela linda cruz novamente. Ela apareceu desta vez, mesmo longe, com uma luz tão intensa que fui obrigada a fechar os olhos e me ajoelhar para não cair. Por um longo tempo eu fiquei prostrada, com os olhos fechados sentindo um calor que nunca sentira antes, como se aquela luz estivesse me abraçando, foi a melhor sensação da minha vida.
Quando abri os olhos, vi que a janela, antes pequena, já ocupava metade da parede. Agora eu pude ver a cruz sem ser cegada pela luz que ela emitia. Da cruz então saiu uma pomba branca que me ajudou, enquanto eu me ajoelhava, a descobrir o que existia por trás das paredes quarto. Percebi que quanto mais tempo eu ficava ajoelhada, mas a janela ia aumentando o seu tamanho.
Depois de um tempo pude ver um caminho que tinha por destino a cruz que tanto me maravilhava. A parede em que estava a janela havia sumido, pela primeira vez eu pude por os pés para fora daquele quarto, pude sentir o cheiro da liberdade. Decidi seguir o caminho até a cruz.
Entretanto, as três paredes que ainda restavam do quarto me seguiam pelo caminho, e como este era estreito, um passo em falso, um olhar para esquerda, para direita, ou para trás me fazia perder o rumo do caminho e as paredes me iludiam de novo ao mostrar caminhos que me levavam para cada vez mais longe da cruz; caminhos supostamente melhores. Mas da cruz sempre saia uma voz que me orientava e me fazia voltar para o caminho; essa voz e a pomba branca me guiavam.
Ainda não cheguei ao meu destino. Mas quanto mais perto chego da cruz, mais as paredes diminuem e perdem a influência sobre mim. Quanto mais tempo eu passo ajoelhada menos tamanho essas paredes tem.
Quando me viro para os lados e para trás e não para frente, onde está a cruz, essas paredes voltam a crescer; mas eu continuo a minha caminhada, pois sei que é na cruz que a minha vida realmente começa.