MINHA MAQUINA DE LAVAR
MINHA MAQUINA DE LAVAR
Crônica de Carlos Freitas
Comparo minha máquina de lavar, a uma garota bonita, atraente, elegante, determinada e obediente, apesar do aspecto frágil. É moderna. Seu coração, um circuito digital, responde ao mais leve toque. Aparência de fragilidade enganosa. Trabalha tal qual operária. Do despertar ao anoitecer, cumpre sua missão de maneira eficiente.
Como diz um velho ditado que “saco vazio não para em pé”, lhe dou porções da sua ração básica (sabão em pó), para que depois não a culpem de um trabalho não brilhante. Como sei que sua sede é insaciável, nela instalei uma “bica”, para abastecê-la, no exato momento que precisar. Mas, acho que não a comunicaram quando nasceu que ela seria um sucesso no trabalho que faria. – Por quê? – Porque outro dia, enquanto lia as notícias no jornal, suas lamúrias me chamaram a atenção. Apesar de cumprir seu trabalho com louvor, emitia repetitivos, irritantes, intermináveis e compassados lamentos, que assim soavam aos meus ouvidos: Não vai... Não vai... Não vai.
Alguma vez, você já parou para ouvir o que a sua máquina de lavar lhe diz?
Bem, meu foco desligou-se dela, como também do jornal, e fiquei ali conjecturando sobre aquele surreal queixume, e, comparando-o ao de algumas pessoas que conheço. Todas com ótima formação pessoal, profissional, bem sucedidas, produtivas e convincentes naquilo que fazem. Desfrutam de ótimos relacionamentos sociais. Família, esposa e filhos na maior harmonia. Entretanto, estão sempre cabisbaixas, e raramente expressando sentimentos de felicidade, conquista ou realização. Como minha máquina que precisa do sabão e da água, elas precisam de alguém que lhes injete no coração e na alma, palavras e estímulos de reconhecimento, valorização, amizade, auto-afirmação e amor. Talvez trabalhem e vivam, imaginando serem apenas robôs: Máquinas silenciosas, que não reclamam, e nem compartilham o que fazem. Elas não podem ficar esperando que tenham sempre que lhes tocar, para reagirem, mostrando que estão vivas. Precisam sair do ostracismo, e despertar para a realidade que as rodeiam, tornando-se assim, parte integrante dessa máquina maior e complexa - O Universo - onde vivemos. Se mantiverem a postura de jamais olhar para os lados, ou para os horizontes, que se lhes descortinam, irremediavelmente estarão sós, e, nos seus ouvidos, de forma massacrante, martelarão as mesmas lamentações e dúvidas da minha máquina. – Não vai... Não vai... Não vai. Minha máquina é dotada de um cérebro digital que não pensa e nem fala, somente executa programas, todavia, nós humanos, temos um, com potenciais arquivos de alternativas, fórmulas e soluções. Basta que os exploremos, e neles, encontremos os remédios, para a cura dos males do isolacionismo que, nos afetam em momentos cruciais de nossas vidas. Atônitos, nos conscientizaremos do obvio: – à nossa volta, a vida Flui... Flui... Flui!