Não fazer o bem, já seria fazer o mal?

 
Sinceramente, acho que ter a oportunidade de fazer o bem, qualquer bem, por menor atuação ou escopo de abrangência que seja, e me abster de exercer esta capacidade, é uma posição indigna para qualquer ser humano.
 
A sociedade muitas vezes nos leva a construirmos uma certa insensibilidade para com os outros, principalmente se estes outros não são do nosso convívio natural. Esta insensibilidade não pode ser sinônimo de indiferença, somos todos irmãos em espécie.
 
Cada ser humano em especial é uma rara expressão da vida humana. Eu pessoalmente valoro a vida como algo extremamente raro. Não crendo em nada celestial, por isto também não creio em nenhum criador. Desta forma sou impelido naturalmente a dar maior valor a vida, em toda sua biologia, posto que seu surgimento me parece ser de uma raridade quase absoluta. Mesmo assim ela surgiu, e bastou que surgisse uma única vez. A força da replicação fez o resto, trabalhando de mãos dadas com a evolução.
 
Se a vida já me parece ser uma raridade imensa, a vida inteligente é assim muitíssimo mais rara. Ao longo dos cerca de 5 bilhões de anos de existência de nosso planeta terra, ela surgiu apenas em seus últimos anos, e mesmo assim em um nicho muito específico, no gênero Homo. Assumo como inteligência aquele algo mais que nos permite sermos instrutor e aluno de nós mesmos, de sermos capazes de nos auto conhecer e de buscar conhecer o livro santo da natureza mãe.  Me refiro a inteligência neste texto como aquilo que nos permite uma consciência de nós mesmos e do que nos cerca, aquele algo mais que nos permite estar questionando aqui e agora se “Não fazer o bem já não seria fazer o mal?”. A inteligência que nos permite ser pensadores, racionais, críticos e lógicos.
 
É natural que existam outras facetas da inteligência: a memória, a inteligência aplicada, que alguns preferem chamar de instinto e que existe em vários graus de brilho em diferentes animais, é também inteligência, mas não é desta faceta que estou falando.
 
Retornando deste pequeno desvio, em uma análise simplista, entendo que não fazer o bem, quando tenho a possibilidade de fazê-lo, já é sim fazer o mal.
 
Como relativista, entendo que atributos como bem ou mal, como fácil ou difícil, como belo ou feio, como frio ou quente, depende de comparações, sendo relativa sua categorização.
 
Bem ou mal não foge a esta minha forma de percepção. Parece-me claro que atos avulsos, sem entendimento completo do momento histórico, do escopo inerente e da situação de cada ator, torna muito difícil de defini-los como um bem ou um mal. Mesmo o simples fato de acreditar ter sido feito por e com amor, é uma situação complexa posto que somos eficientes em distorcermos fatos e sentimentos para conforme nos aprouver.
 
Para mim, a ética e o bem não podem ser mensuradas pelo ato em si, e sim pelo reflexo imanente deste ato. Algo será tão mais ético e poderá ser qualificado como bem, quanto mais pessoas forem levadas a felicidade, ao bem estar e a realização humana, pela maior área geográfica possível e pelo espaço de tempo maior possível.
 
Matar, por principio parece mal. Retirar a vida de algum ser é um ato que na simplicidade de análise pareceria um mal, agora retirar a vida de um terrorista pronto a explodir uma bomba em uma escola é para mim um ato de bem. Talvez por não ter nenhum peso religioso, não veja a vida como um bem celestial, e sim como um bem social. Existimos para buscar nossa felicidade, mas somente quando aliada a felicidade coletiva e a felicidade do maior número possível de pessoas.
 
A vida não me remete a espíritos ou a vidas futuras, não coleciono bônus, tenho uma vida passageira e única, o que me dá mais motivos para valorá-la exatamente por ser única, e assim associo a vida presente ao social momentâneo.
 
Diminuir o sofrimento de meus seres irmãos é um dever, e por isto continuo mantendo a posição de que não fazer o bem é para mim uma atitude de fazer o mal. Minha vida têm alguns poucos motivos básicos: reproduzir e educar minha prole no amor a natureza e assim no amor aos semelhantes, buscar dignificar a vida como um todo e em especial a vida humana, buscar a felicidade social, minimizar o sofrimento de toda a coletividade, e por fim buscar deixar alguns exemplos que ajudem a dignificar nossa existência.
 
Creio que por agora, minha posição é realmente a de que não fazer o bem, quando possível, é sim já estar fazendo o mal...

É obvio que não sendo o dono da verdade, cabe a cada um sua análise mais criteriosa.


Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 18/01/2011
Reeditado em 18/01/2011
Código do texto: T2737317
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