QUEM ESCREVE PRIMOROSAMENTE?

Fala-se muito em escrever com primor, primorosamente.

Agradeço a quem lê minhas linhas, e principal, delas tira algum proveito cultural. Por qual razão as faço?

É visceral, desde menino escrevo, escrevi muitas monografias acadêmicas fruto de palestras, escrevo para revistas profissionais especializadas, escrevi matérias que constam em muitos livros, um livro de agradecimento às forças maiores que anda na casa dos oitocentos vendidos, mas escrita "primorosa" pertence aos sábios, e eles são poucos, vieram ao mundo para ensinar com profundidade, as outras “escritas” são apêndices desse manancial de escrever primorosamente. Não tenho como escrever com primor, conheço minhas limitações, muitos as desconhecem, pena...

Os “primorosos” nada disso pretenderam, escrever com primor, buscavam trazer luzes para essa escuridão em que vive a humanidade. Tento me banhar nessas luzes. Quem ensina não tem limitações para ensinar, nem pode escrever balizado, não é esse o escopo de escrever. Mas, diletantismo e distração pessoal, são meios válidos para entretenimento; e só. Escrever primorosamente é outra coisa. Não posso fazê-lo.

O segundo maior monumento da literatura universal promana de Alighieri em sua “Commedia”, acrescido um vocábulo qualificador ao Inferno de Dante, “Divina Commédia”. A referência da lingua italiana na sua tardia unificação, é chamada por isso de lingua “dantesca”. Se deve ao melhor dialeto falado nos anos mil e oitocentos na fragmentada Itália. Está lá o "primor" escrito das emoções humanas, passeando em castigo pelas “bolgias” do inferno.

Gandhi, Confúcio, Rousseau, Sidarta Gautama, o Buda, Franklin, Proust e pouquíssimos outros escreveram com primor, não buscaram reconhecimentos vãos nem nada disputavam, eram ícones de como deve se portar o ser humano, se ao mundo veio para ensinar escrevendo, nunca disputar, razão primeira dos ensinamentos que têm como meta evitar torneios.

Longe de disputas e buscando o melhor, escreveram "com primor" esses privilegiados neurônios, não lhes feria a vaidade ignara. Por isso escrever com primor é difícil. Fiz uma crônica nesse sentido, "É fácil escrever?", e um amigo que escreve no Recanto disse que escrever era fácil, mas se formos ao seu perfil está lá: “Escrever é dificíl”.....Paradoxal, não(!) , é a exposição da verdade que ele mesmo sente e confessa e ninguém pode esconder. A verdade é sobranceira...ninguém escapa de suas verdades, de suas dificuldades, de sua consciência, não escapa da avaliação pessoal quando não busca contradizer sem motivação. Mas esse contraditório desmotivado também faz parte da vida, de seu tom "variegado" compreensível.É humano, e o humano é respeitável quando não ofende terceiros.

Nesse propósito se escreve, nunca “primorosamente”, e muito superficialmente se descrevem historietas nossas corriqueiras ou ficções. Profissionalmente se busca o melhor, atividades laborais, acadêmicas ou não, sendo o veículo a escrita. Vive-se desse veículo. Busca-se a comunicação profissional com apuro, fato diverso de escrever “com primor”.

Shakespeare em sua dramaturgia não é aceito por extensa literatura investigativa como feitor de sua obra. Não tinha intelecto para tanto, meramente envolvia-se com o teatro, era uma pessoa simples e sem estudo formal. Diga-se que não era o teatro frequentado por Bacon, único intelectual em condições à época de escrever “primorosamente” sobre o perfil humano como teria escrito Shakespeare. Bacon, máximo filósofo, era profundo conhecedor da alma humana. Francis Bacon teria escrito a obra de Shakespeare, inclina-se relevante e exaustiva pesquisa dos doutos praticamente em unanimidade para essa afirmação. Na época elizabetana, era sem dúvida Bacon , POR SEU PRIMOR EM ESCREVER, atente-se bem, quem estava capacitado a tanto, não uma pessoa simples como Shakespeare, dando nascimento a conhecida “Shakespeare-Bacon Controversy.”

Não é qualquer um que escreve com primor, histórias sem ensinamentos nada têm de relevante, são comuns, nada trazem de ensinamentos que marcaram a humanidade, ainda que literariamente. Essas historietas, servem às amenidades, nada mais.

Se muito, histórias curtas e sem primor, relevantes, encontramos nos contos Zen.

Escrever com primor é privilégio daqueles que a história da escrita conta com parcimônia, para quem com primor se debruça na leitura e sua história, raízes maiores e profundas e conhece os poucos “primorosos escritores”.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 18/01/2011
Reeditado em 22/01/2011
Código do texto: T2737246
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