ATÉ QUANDO?

Serei rápido. Sofro de impotência. Uma impotência que me angustia, me desidrata, que me encantua, de não ter para onde fugir, para onde ir. Estou no canto da parede do mundo. Não falarei de perdas materiais. Estas são possíveis de recompor, são substituíveis. Dialogarei sobre perdas físicas, humanas. Ocorreram em Nova Orleans, no Haiti, no Rio de Janeiro. Em São Paulo já fazem parte do cotidiano. Uma sombra de hipocrisia cobre o mundo. A árvore da hipocrisia, viçosa, cresce, expande seus braços e seus frutos são amargos, doces como o fel. Irmã gêmea, ao lado, cresce retardada e em menor proporção, a árvore da solidariedade, cujos frutos alimentam os que escapam da intoxicação genocida. Os hipócritas, zeladores da árvore que obnubila a todos com sua fragrância, halo egoístico, produzem epitáfios aos que foram engolidos, tragados, soterrados pela lama do descaso, da putrefata ignorância dedicada tão comum e praticada pelo amo ao servo: “acidentes naturais”, “obra do acaso”, “respostas da natureza”...

Os fatos atuais que enlutam o Rio de Janeiro era uma tragédia anunciada.

Até quando, o povo permanecerá cego, insensível às chagas produzidas pelos hipócritas que estão escanchados nos galhos mais altos da árvore hipócrita? Quando, o povo poderá enxergar as chagas sociais (áreas de risco – povo do próprio povo) como feridas produzidas por estes, que cobrem de escaras as cidades brasileiras? Quando, me pergunto, até quando, o povo suportará o avançar da desigualdade social que aflora a terra como cogumelos à sombra da árvore da hipocrisia? Até quando, o povo ficará a correr para a sombra parca da árvore da solidariedade que apenas ameniza a dor dos que ficam? Que não traz ao seu convívio os entes queridos, ceifados, porque a vida é única? Até quando?

Sinto-me impotente. O meu grito não é de solidariedade. Não é de indignidade. É de revolta.

Sagüi
Enviado por Sagüi em 18/01/2011
Código do texto: T2736829
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