Dalva a puritana

 
Dalva era uma mulher bonita, bem casada, certinha, puritana, toda cheia de pudor, na verdade era uma Amélia que vivia para o marido e os dois filhos menores.
 Até que conheceu Alfredo, um taxista cujo ponto era na frente do shopping, se olharam pareciam atraídos inexplicavelmente.
 Dalva não queria acreditar no que estava acontecendo. Alfredo era galanteador e sabia como conquistar uma mulher.
 Moreno, alto, com um sorriso largo, dentes brancos, olhos verdes, era muito atraente e sabia do seu poder de sedução.
 Foi assim que Dalva começou um romance às escondidas com Alfredo.
 Ele a levava para seu pequeno apartamento que era mais seguro, do que o motel.
 Dalva se sentia uma adolescente completamente apaixonada, fazia o serviço de casa, cuidava dos filhos com muita disposição e rapidez, para sobrar um tempinho para eles se amarem.
 O tempo foi passando e os dois se entregavam aquela paixão sem limites.
 De repente Dalva estava despida de todos os preconceitos sexuais, viviam aquele amor com muita coragem, destemidos e a cada dia ficavam mais dependentes um do outro.
 Dalva descobriu com Alfredo, um amor envolvente, alucinante, onde o desejo era constante, a qualquer hora em qualquer lugar, ela sentia com ele um prazer que nunca tinha sentido.
 Foi então que Alfredo começou pressionar Dalva, para que ela abandonasse o marido e fosse morar com ele definitivamente.
 Dalva nunca tinha sido tão feliz, afinal, ela achava que tinha conhecido um amor de verdade com tudo que tinha direito. Com Alfredo era um amor selvagem, onde valia tudo.
 Dalva estava de cabeça virada, apaixonada não conseguia raciocinar, estava cega, dominada pela paixão.
 Atendendo a pressão de Alfredo, falou com seu marido que queria se separar, no primeiro momento ele ficou furioso, depois se acalmou dizendo: - Pode ir embora com a roupa do corpo, seus filhos ficaram aqui, porque você não passa de uma vagabunda, prostituta, uma mulher sem vergonha, não pode ficar com as crianças, vai com seu amante, aqui você não entra mais, vai desfrutar da sua vida fácil, e tomara que não se arrependa e venha bater aqui, porque a porta estará fechada para você.
 Foi assim que Dalva deixou o conforto do seu lar, o amor dos seus filhos para trás.
 Nos primeiros dias, estava tudo bem. Porém logo começou a sentir uma solidão terrível, uma saudade incontrolável dos filhos e até da sua casa. Essa saudade foi maltratando ela, estava cada vez mais triste.
 Aos poucos foi acabando todo aquele deslumbramento, aquele encanto, caiu a sua ficha, ela se tornou uma mulher triste, amarga, desiludida.
 Dalva já tinha absoluta certeza, tinha feito uma burrada, sem tamanho, jogou tudo fora, a estabilidade de uma vida inteira, deixando a família, a segurança, o conforto, o carinho dos filhos. Começou a pensar: como pôde trocar tudo por uma aventura, agora estava condenada à viver só e pagar o resto da vida pelo seu delírio amoroso, pela sua insensatez, achando que poderia ser feliz, que Alfredo preencheria todo espaço da sua vida, se enganou completamente.
 Eles já não se entendiam, Alfredo cansado das lamentações de Dalva foi embora sem dar explicações e nem precisava, eles mal estavam se aturando. Então Dalva ficou só de vez, com suas lembranças e a saudade dos filhos e de tudo que abandonou por uma ilusão.
 Dalva tentou muita e inúmeras vezes se aproximar dos filhos e do marido, nunca conseguiu.
 Ficou surpresa ao saber que o marido havia se juntado com a filha da vizinha e mudou para outra cidade, sem deixar endereço, colocando um fim nos sonhos de Dalva de se juntar a família novamente.
 Depois disso, ela perdeu a vontade de viver, não trabalhava, andava sem destino certo. Não demorou estava vivendo da caridade publica, perambulando pelas ruas, em cada criança que olhava lembrava-se de seus filhos.
 O tempo foi passando implacavelmente, Dalva já não era uma mocinha, os anos lhe pesavam nas costas, sem um teto para se abrigar, se juntou aos milhares de desabrigados, mendigos, vivendo ao relento, maltrapilha, não se alimentando devidamente, acabou sendo internada em uma casa de saúde onde estava sendo bem tratada, especialmente por um dos médicos, que era muito atencioso, até carinhoso.
 Dalva vivia sedada, porque sentia muita dor. Uma manhã durante a visita do medico, ela estava acordada, quando olhou para ele seus olhos encheram de lagrimas, ela falou: você se parece com meu filho Marcos, que só Deus sabe onde andara.
 Marcos olhou surpreso e perguntou:- No seu prontuário está escrito Maria, o seu nome verdadeiro é Dalva, ela balançou a cabeça afirmativamente.
 Então Marcos, com a voz embargada pela emoção abraçou-a dizendo mamãe você está viva, eu e Mario procuramos tanto pela senhora, nunca pensamos que pudesse estar vivendo na rua, agora não vamos deixá-la nunca mais, precisamos recuperar todo tempo perdido.
 Assim cercada de amor e carinho Dalva melhorou e logo teve alta e pode desfrutar da companhia dos filhos, netos e noras.
 Todo esse amor lhe fez muito bem, trouxe saúde e disposição para esquecer o passado tenebroso e ainda ser muito feliz ao lado dos seus entes queridos.
 
 
 Essa história prova que na vida tudo é possível, que o sonho pode se tornar realidade.