EU PRECISO ESCREVER!

Antes de começar meu texto fiquei matutando o título que daria a esta minha crônica, que a bem da verdade não é tão "crônica" assim, talvez um artigo de sentimento crônico- agudizado, cujo foco primordial é sócio- político, embora seja ele fruto duma sucessão de observação de fatos reais através dos últimos tempos.

Destarte, emito uma impressão pessoal, algo que vem me incomodando através dos recentes acontecimentos por todo o Brasil.

Acontecimentos sociais, políticos, culturais, enfim aqueles fatos que balizam e denunciam a verdade muitas vezes colocadas por debaixo dos tapetes das glórias...

Começamos o ano de dois mil e onze com fortes emoções, e embora não entenda nadinha de numerologia, dizem os numerólogos que "onze" é um número de confusões.

E quem sou eu para dizer que não? "Não acredito em bruxas, mas que elas existem... existem!", assim diz a crença popular.

Fato é que também terminamos dois mil e dez comemorando vitórias de crescimento social, de classe média ascendente em todo o país, de miserabilidade decrescente, de compras natalinas eufóricas, enfim , tudo parecia ir muito bem, quando as chuvas começaram a desvendar as verdades, nuas e tão cruas da nossa triste situação social...por todo o país.

A tragédia do Rio de Janeiro não é algo de ocorrência do acaso. Nenhuma tragédia é acaso, e não é justo e nem sábio que coloquemos a culpa apenas nas águas que todo ano pedem sua passagem.

Doutro lado, além da tamanha emergência social que demanda pela presença duma sociedade civil amplamente organizada no seu aparato técnico multidisciplinar para socorrer a todos em todas as suas necessidades, percebemos nitidamente que as águas desvendaram não apenas a situação de risco das inúmeras moradias espalhadas pelos morros, não apenas nos do Rio de Janeiro, mas também a IMPRESSIONANTE ascensão do número de pessoas em situações sociais muito críticas, espalhadas pelo país afora, aliás, situação muito além do que poderíamos imaginar, mascarada através da então euforia eleitoral dos políticos de todas as horas.

Situações de tamanha emergência social denunciam claramente que a demanda aguda por serviços técnicos e especializados multidisciplinares, os necessários às situações de catástrofes, não consegue ser prontamente atendida, colocando em xeque todo o sistema organizacional da sociedade, e portanto, todos os nossos déficits tecnológicos, todo o nosso apagão sócio - cultural fica tristemente evidente. Falta-nos tudo! Uma tecnologia entregue na mãos dos tantos políticos oportunistas.

Claro, se temos dificuldades para funcionar até no trivial...

É de emocionar a mobilização da sociedade civil, sempre plácida e hospitaleira, e penso que devêssemos também nos mobilizar para cobrar mais seriedade na organização social prioritária que deveria ser seriamente providenciada frente aos nossos impostos cada vez mais altos.

Dessa vez a tragédia não escolheu "classes sociais", alguém poderia argumentar quando as águas resolveram mostrar a sua força.

Um álibi para os políticos? Não, não sejamos ingênuos, muito longe disso!

Penso que enquanto sociedade, não há tragédias setoriais , e quaisquer fenômenos sociais sempre ocorrem em cascata, num exato efeito dominó.

Se um seguimento social "cai", obviamente mais cedo ou mais tarde, levará consigo o que encontrar pela frente, exatamente como aconteceu na tragédia da região serrana do Rio de Janeiro.

O descaso não poupou a ninguém!

Tenho insistentemente me perguntado quem responderá pelo ocorrido, além da culpabilidade tão atribuída às chuvas.

Perdemos muitas vidas, não é possível que tal tragédia fique por isso mesmo. Uma coisa é a fala dos políticos, outra é a visão dos outros setores mais conscientes da sociedade, como técnicos especializados e os homens da Justiça, embora eu acredite que por aqui, são poucos os que têm coragem de levantar as "tantas lebres" políticas que saem correndo às responsabilidades sociais. Parece que estamos todos "amarrados" ao que eu não saberia explicar.

Nossa presidenta muito gentilmente declarou que não faltará ajuda à sociedade. Nada de novo.

Eu lhe agradeço muito, afinal, quantos países já não tiveram a ajuda das nossas altruístas mãos aos seus tantos momentos difíceis, não é mesmo?

Às vezes, fico deveras incomodada ao agradecer o que é de pleno direito de todos nós.

Menos condolências e mais atitudes políticas é do que o Brasil precisa neste e nos demais futuros momentos da nossa História.

Nossa presidenta teve uma pequena amostra do tamanho da miséria que ela prometeu erradicar.

Foi por isso que escolhi o meu título:" Eu preciso escrever".

Um mero desabafo literário, incólume de novidades e de efeitos sociais, algo de quem ainda simbolicamente s espera por AMPLAS atitudes políticas de real impacto social, embora confesse, eu pouco acredito que elas venham a premiar uma sociedade agonizante, que cegamente sempre paga muito caro pelo tudo que nunca leva.

Nosso preço mais alto é o da manutenção de anos duma estrutura política que não funciona, e que a meu ver, muito alimentou a indignidade, o que deduzo frente ao escancarado de todas as mentiras que se prega, e que agora boiam nas águas lamacentas, sem que ninguém consiga escondê-las e nem explicá-las.

São muitas as nossas lamas inexplicáveis...

Tempos holísticos...estes nossos. Se o Homem mente, a natureza a verdade prontamente revela, sem piedade.

Chego a acreditar que uma sociedade com mais cidadania talvez não precisasse de tanto exercício de solidariedade e de esperança.

Parabéns Brasil, por ainda conseguirmos sentir, chorar, ajudar e acreditar.