À sombra dos pequizeiros
Itamaury Teles
Um aroma diferente paira sobre o Norte de Minas no mês de janeiro. Em praticamente todos os lares uma panela de arroz com pequi é preparada em fogo baixo, causando intensa salivação nos comensais do pequeno fruto amarelo, merecidamente homenageado com uma festa nacional, em Montes Claros, todos os anos.
Muito já se ouviu falar das propiedades nutritivas do oleaginoso e aromático pequi. Sabe-se, por exemplo, que é rico em vitamina A, betacaroteno e proteína, motivo pelo qual também é conhecido como “carne dos pobres”.
Sem tirar o mérito desses atributos alimentícios do pequi, pois importantes numa região com grande parte da população carente, sua decantada propriedade terapêutica, todavia, o coloca em posição destacada frente às nutricionais, por afetar, direta e positivamente, a libido masculina.
O pequi, por ironia do destino fruto de tortuosa árvore, é um reconhecido remédio para “endireitar” – digamos assim com algum trocadilho – muitos decaídos e vetustos cidadãos. Segundo alguns, deixa o Viagra no chinelo. Pelo menos durante a safra ou enquanto durar o estoque cuidadosamente congelado, para o consumo em doses homeopáticas na entressafra (“o amor é eterno, enquanto dure... o estoque de pequi”, poderia ter concluído Vinícius de Moraes, sem chance de alterar a verdade contida em seu conhecido axioma).
Recentemente soube da existência de estudo comprovando ser um mito essa estória sobre o potencial energético do pequi e sua eficácia nas alcovas.
Segundo cientistas, supostamente contratados pela indústria farmacêutica multinacional, o nosso pequi não possui propriedade afrodisíaca alguma.
Foi uma notícia pungente e lancinante para mim. Fiquei indignado e, cético, indaguei duramente meu informante:
- Se é assim, como explicar o fato comprovável pelos assentamentos nos cartórios de registro civil? Como justificar a alta ocorrência de nascimentos, exatos nove meses após a safra de pequi?
Respondeu-me calmamente, entre baforadas de Captain Black em seu inseparável cachimbo, que os pesquisadores constataram este fato, porém, no detalhamento dos números coletados, perceberam um dado muito intrigante: por que o fenômeno não ocorria nos núcleos populacionais, nas sedes dos municípios, mas principalmente nos grotões, na zona rural? Os habitantes dos cafundós dos gerais roeriam mais pequi que os urbanóides?
Os estudiosos, com a curiosidade que lhes é peculiar, em especial quando a verdade está próxima, debruçaram-se novamente sobre suas anotações de campo, em busca da chave para o mistério. Os registros eram minuciosos e iam desde o plantio da caryocar brasiliense à colheita dos frutos, envoltos por uma pesada casca amarelo-esverdeada.
Após revisão de fôlego, chegaram a uma conclusão pragmática, mas cientificamente contestável: apontaram que o “poder de fogo” do pequi, até prova em contrário, estava justamente na fase de colheita. Era, como queriam provar, um fator extrínseco ao produto. E encerraram, com precisão e riqueza de detalhes, seu relatório:
“Como os galhos do pequizeiro são finos e frágeis, as mulheres, mais leves, sobem na árvore, retiram o pesado fruto e o arremessam para os homens, no solo, agarrarem. Usando saias e propiciando um visual, de baixo prá cima, bastante interessante, não há sertanejo que resista aos encantos femininos.”
Assim, à sombra dos pequizeiros, a população cresce...