Uma sensação de medo
Foi se um tempo, era eu, soldado do exército. O maior terror era o comandante da melhor companhia do quartel. Esse era o terror dos soldados. Um pseudo nome: Borges. Um homem de meia-idade. Tinha ombros largos e braços curtos, uma cara séria e sempre sem sorriso. Um muro ambulante, que punha todos num paredão. Era um sujeito desconfiado, sisudo. Primeira vistoria matinal era ver cinto, barba, coturno, enfim o tamanho de cabelos dos soldados. Usava uma grande prancheta, onde fazia com prazer as devidas anotações. Se algum soldado fugisse à regra, no mesmo instante pagava quarenta apoios de frente. Se algum soldado apresentasse cabelos grandes ou barba, no mínimo ia ficar o final de semana no quartel. Se tivesse muitas faltas as ordens unidas ou faltasse algum botão na farda ou bota mal engraxada, mandava prender o subordinado. Ele não aceitava justificativa, era uma pessoa de pouco diálogo. E sempre usava no bolso um rolo de algodão, que imediatamente passava no rosto dos soldados um a um e se ficasse resto de algodão, o soldado era obrigado a se retirar e fazer uma raspagem imediatamente num tempo de cinco minutos.
Já passado dez anos, estava eu, na companhia de amigos e familiares num aniversário, quando repentinamente sinto uma vaga sensação de medo. Era uma situação embaraçosa. Olho para um dos lados e vejo o terrível capitão Borges. Era o mesmo homem de ombros largos, de cara séria, já cabelos escassos e grisalhos. Tranquilo bebia sozinho o seu uísque. Pouco tempo depois resolvi ir embora, para nunca mais lembrar-me dessa cena