SENHOR N
O camarada acorda de manhã com aquela impressão que vai se dar bem. Se banha com aquele verdinho da Natura que comprou por recomendação. Disseram que a mulherada se impressiona com o tal cheiro.
Entra no ônibus se cheirando. Puta merda, como esse cheiro é bom! Olha para os passageiros para ver se então sentindo. Toma posição no final do busão e segura o corrimão do teto, que é para ficar com o braço levantado mais tempo.
A miséria do ônibus começa a encher e do lado dele encosta um baixinho que parece ter acabado de chegar da noite depois de umas duas caixas de cervejas.
O cheiro vencido de álcool se mistura com uma catinga de cebola temperada com limão. Com o avançar da viagem os dois ficam tão colados que o cheirinho de Natura se esvai. Ancorada na frente dos dois uma fêmea daquelas colecionadoras dos adjetivos de feiúra. Desquadrada, sem dentes, descabelada e fedorenta.
O ordinário do baixinho começa a se esfregar na mulher e para piorar, ela olha para traz repreendendo nosso galã da Natura com os olhos e com grunhidos. Mergrussfs degrusfns safaidssntsns!
Lá pelo meio da viagem a mulher grita: Puta que pariu motorista, para essa merda por que esse engomadinho tá me relando desde a partida! O ônibus para e os passageiros se encarregam de lançar o cheiroso na sarjeta, bem em cima de uma poça de esgoto.
Contrariado ele pega outro ônibus. Sabe que não pode voltar para casa, arrisca ria perder o dia de trabalho. Entrando no departamento os colegas perguntam se ele pisou na merda. O dia inteiro aquele fedor e a galera fazendo piadinha de longe. São oito longas horas de mau cheiro.
Em casa a noite, já de banho tomado dá o maldito perfume para o irmão. De que adianta ser cheiroso se dá má sorte?
Norma de Souza Lopes
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