Sobre a morte
"Quem sofre, é quem continua vivo."
De repente hoje, me lembrei que escrever me faz bem. E então, me perguntei: "por que não falar sobre isso também?"
Li, sobre luto, num desses textos que veio parar em minhas mãos, e essa frase colou em minha cabeça: "a consideração pelos mortos, que, afinal de contas, não mais necessitam dela, é mais importante para nós que para eles." Freud em Luto e Melancolia.
Fico fugindo constantemente desse sentimento, dessa dor. Fiquei esperando, pacientemente, que ela passasse, mas é uma grande surpresa, quando percebemos, que na verdade, não passa. E tudo bem.
A vida continua, como sempre continuou. E seguimos, apenas sentindo, não menos, ou mais ou diferente, apenas sentindo, e tudo bem.
Às vezes precisamos de ajuda, quando a vida trava. E me surpreende admitir que falar, na verdade, me faz bem. No começo, é extremamente doloroso, assim como agora, que escrevendo sobre isso, já vem lágrimas e lágrimas... Ainda existe lágrimas, e isso me surpreende também.
Às vezes exijo demais de mim. Que eu tenha que parar de sofrer em determinado momento, que tenho que saber isso ou aquilo. Que tenho que amar desse jeito. E esqueço, que a vida não é assim. Que na verdade, tudo segue seu curso como tem que ser. E tudo bem.
Daí, assisti esse filme, "A single man", traduzido como "Direito de amar", não gosto das traduções que fazem aqui no Brasil para os filmes, mas o filme é fantástico, independente do título. Ele fala desse luto proibido. De quando, por qualquer motivo que seja, a dor da pessoa não é reconhecida. E ela não pode sofrer o luto abertamente, o que pode parecer dispensável, mas julgo que não é. Apesar de ter apenas conhecimento por experiência da causa, o que quero dizer é que não tenho experiência profissional.
E a pessoa perde o direito de estar em luto, e dar sentido àquela dor. O foco do filme na verdade, é justamente como o personagem enfrenta o luto. Mas para mim, coube perfeitamente nesse sentimento, quando não valorizado por nossa sociedade.
Explicando, é mais ou menos, quando queremos sofrer desesperadamente pela tartaruga de estimação que morreu, mas os outros acham isso bobagem demais. Ou quando queremos sofrer pela morte do amante, mas não podemos explicar essa dor para o marido. Ou quando queremos chorar no velório do amor da sua vida, mas a família não aceitava que ele era gay e não valorizava essa relação, te proibindo de ir ao velório.
Então, choramos sozinhos, e às vezes, nem conseguimos às lágrimas, por vergonha de nós mesmos.
Enfim, foi tudo isso que me veio à cabeça, só para que eu aceite, que ainda posso estar em luto, que ainda posso chorar e sofrer, e que sim, tudo bem.