ANDROPAUSA ! ! !

Segunda feira chuvosa, mas desperto feliz. Estou em casa, depois de um final de semana na praia.

Sei que vou na contra mão da maioria, mas, não curto muito o clima litorâneo. Calor demais, mormaço demais, umidade excessiva, borrachudo a picar, areia a incomodar, e por aí vai minha lista.

No fundo é somente questão de gosto mesmo, preferência.

Mas, o tempo estava ótimo por lá, São Pedro resolveu dar uma trégua e fechou a torneira do céu, e o sol brilhou por todo final de semana, um prato cheio para quem gosta, de se esparramar na areia feito um jacaré, tomar banho em águas salgadas, se deitar na praia e curtir, feito carne de sol a secar.

A beleza natural é indiscutível. De nossa casa, avista-se a mata atlântica, a fauna e a flora são riquíssimas, os pássaros de cores e cantos variados, junto as flores de todos os matizes, convidam a deitar na rede da varanda e se deixar encantar.

O quintal é imenso, e a Maui e o Marley, se divertiram correndo sem parar, quer dizer a Maui nem tanto, pois seus treze anos, fazem seu caminhar ser mais lento, mas o Marley nos seus quatro meses de vida, é pura emoção, corre atrás dos quero-quero, que fazem ninho pelo gramado do quintal.

Penso que hoje, os pássaros estão respirando aliviados, pois o "pestinha" veio embora, e eles podem voltar ao sossego de seus ninhos no gramado.

E eu também estou, aliviada, pois realmente tudo é muito lindo, mas não é o meu lugar ! Questão de gosto, apenas.

Estávamos na sexta feira a noite a comer uma pizza, no restaurante que tem dentro do condomínio da praia, quando avistamos um casal de amigos muito especial. E depois de um papo rápido, o convite para irmos no dia seguinte visitá-los.

Eles tem um apartamento com varanda que se debruça para o mar, uma vista encantadora, de tirar o fôlego, para quem ama a natureza.

E assim, a conversa deliciosa que é comum acontecer entre amigos, não importando quanto tempo não se vejam, fluiu solta e gostosa.

Penso que, seja semelhante, a ligar um fio que estava desconectado de uma tomada. Só o que se tem a fazer é ligar.

No caso dos amigos, só precisam se encontrar.

E a prosa rolou ate as três horas da manhã. Tanto assunto bom, boas risadas.

Em meio a conversa, nossa amigo falou: "a ANDROPAUSA, me pegou em cheio, e com ela a depressão e seus sintomas de tristeza, desânimo, pessimismo, que vem junto como o pacote."

E contou-nos com humildade, sobre os transtornos que o tem acometido, e as agruras de senti-los.

Vim de lá pensando que sabe-se que a andropausa existe, mas ela não é tão divulgada, quanto a menopausa. Muito menos vê-se um homem, abrindo sua alma e expondo-se, com a naturalidade que vi, nosso amigo fazer.

Não gostei de saber que um amigo tão querido, está vivendo essa avalanche de emoções contraditórias que a variação hormonal trás, mas, fiquei feliz em observar, como ele está lidando bem com o assunto, falando abertamente de suas emoções e fragilidades. Poucos homens que conheço teriam segurança, para se expor assim.

Até as ondas de calor, os suores, ele descreveu, muito semelhante ao que nós mulheres costumamos enfrentar nessa fase delicada.

Faz parte do viver, o enfrentamento de cada fase, são os rituais de passagem , que nos conduzem a um funil estreito, onde temos que continuar seguindo, muitas vezes nos sentindo espremidos. Mas, percebo que, se conseguirmos passar o trecho, saímos dele muito mais amadurecidos e com algumas habilidades conquistadas.

Duro é fazer de conta, que não estamos vivendo o que realmente estamos. E escondermos emoções até de nós mesmos.

O casal de amigos em questão, tem algo muito especial em sua relação, que se chama RESPEITO.

Impressiona de forma positiva, a maneira como se relacionam e vivem a fase que cada um atravessa.

Mesmo em situações delicadas como essa em que a Andropausa, está sendo vivida de maneira itensa por ele, associada a depressão, que veio de carona com a primeira, eles não perderam o bom humor, e riem muito da maneira como estão lidando com os problemas.

Contam com graça situações que para outras pessoas seriam no mínimo desconfortáveis.

Encontraram uma receita maravilhosa, de fazer humor com as vicissitudes que as mudanças hormonais trouxeram.

Ainda estou aqui, pensando na sintonia harmoniosa e gostosa, que há entre o casal, isso aliado a magia com que recebem as pessoas, fazem deles mestres em entreter e acolher os amigos.

Realmente, problemas todos nós temos, mas a maneira como os enfrentamos é que nos torna únicos.

Nossos amigos, mesmo nessa delicada fase da andropausa e seus transtornos, aprenderam a falar sobre isso com naturalidade, sem receios ou camuflagens.

Hoje a psicologia diz, que há em nós, uma parte feminina e masculina, quando realmente deixamos habitar essas duas identidades, sem opor resistência, temos uma mulher ou um homem que está tentando resolver seus dilemas, e atrevessando o funil de cada fase, sem querer mostrar aos outros que está tudo bem obrigado.

Enfim, vi no nosso amigo, um homem que não tem medo de parecer frágil, e mais que isso fala e mostra-se como está nesse período, e ainda faz humor com isso.

Ao expor suas fragilidades, ele mostra o quanto é forte.

Lenapena
Enviado por Lenapena em 17/01/2011
Reeditado em 25/01/2011
Código do texto: T2734334