CRÔNICA – A Tragédia do Rio de Janeiro

 

CRÔNICA – A Tragédia do Rio de Janeiro – Em 17.01.2011

           

Desde que começou essa tragédia no Rio de Janeiro, mais propriamente nas cidades serranas, proporcionada por chuvas em excesso, que eu me sinto, na qualidade de brasileiro (embora ultimamente com vergonha de sê-lo), bastante tristonho, abatido, decepcionado com os episódios constantes, arrasadores e praticamente inéditos em intensidade na história.

São centenas de pessoas mortas e desaparecidas, desabrigadas, sem pra onde ir, soterradas; famílias inteiras destruídas, cidades quase que desapareceram do mapa, e o que restou dos temporais é apenas um cenário triste e desolador. Aquilo que era lugar de se passar férias, de descanso, de diversão e de elevar a qualidade de vida dos cidadãos que lá residiam ou que faziam moradas temporárias, tornou-se num instante num verdadeiro tsunami, tão arrasador quanto para decepção de todos nós.

Não, não sou carioca, mas sou pessoa solidária com o sofrimento alheio, porquanto sinto na pele quando a desgraça alcança irmãos nossos de um Estado brilhante, rico pela graça de Deus, notadamente em hidrocarbonetos nas bacias marítimas e agora no pré-sal, que fica a mais de seis mil metros da superfície de oceano.

O que me deixa pasmo, todavia, é ter sabido através da emissora Rádio Jornal do Comércio, daqui do Recife, em noticiário matinal, que as autoridades governamentais do Rio de Janeiro, portanto também das cidades mais atingidas (Teresópolis, Nova Friburgo e Petrópolis), haviam tomado conhecimento desde novembro de 2008, que esses fenômenos climáticos estariam para acontecer.

Vejam o que disse a mídia carioca: “O temporal que arrasou a Região Serrana do Rio foi previsto pelo Instituto Nacional de Meteorologia, que deu o alerta. As prefeituras de Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis confirmaram que receberam o aviso, mas disseram que não houve tempo para tomar as medidas que poderiam ter evitado essa tragédia. Nesta quinta-feira (13), a presidente Dilma Rousseff esteve na região com ministros e o governador Sérgio Cabral”.

E a demagogia do governador Sérgio Cabral, aproveitando-se da desgraça alheia, a fim de se esconder da responsabilidade: “O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, disse que a irresponsabilidade de governos anteriores contribuiu com a tragédia”. “A desgraça do populismo, que é a permissividade de você deixar a ocupação de áreas de uma maneira irresponsável, como se fossem aliados do mais pobre, do mais necessitado. Só que, na hora de desgraça, quem paga o maior preço? A grande maioria, a esmagadora maioria é de gente humilde, que muitas vezes tem lá um político que vai defender aquela ocupação irregular”. Penso eu que ele está querendo colocar a culpa no FHC, coitado...vai morrer levando bordoadas...

De logo, como sempre o fazem, a presidente prometeu liberar mais de setecentos milhões de reais, isso apenas num sobrevoo que fizera dias após a desgraça, mas isso sem qualquer orçamento, sem nenhuma estimativa das perdas e sem nenhum critério de utilização do dinheiro do povo sofrido deste país desgraçado. Dinheiro que chega fácil é gasto de modo ainda muito mais açodado, desviado e nunca vai à ponta, aos miseráveis.


     O próprio governador, numa atitude eleitoreira, prometeu construir 140.000 mil casas para os desabrigados, sem ao menos saber a quantidade delas destruídas, divulgação sem nenhuma repercussão positiva, salvo para si próprio, pensando nas eleições de 2014 quando, aí sim, terá vaga para ser o vice-presidente na chapa do Lula ou da reeleição da doutora Dilma. No Brasil é assim: O político cresce muito nas derrocadas dos menos favorecidos, veja-se por exemplo nas secas e nas enchentes do nordeste!

Desta vez, com mais rigor, a natureza revoltada com tantas mudanças naquilo que fora a vontade do Criador, resolveu dar o troco e em maiores proporções, porquanto não se deve mudá-la tão bruscamente, sob a alegação da necessidade de desenvolvimento. Não adianta, ela tarda mas chega. Aqui na cidadezinha onde tenho a minha casa, na praia, muita gente tentou mudar o curso de um riacho que deságua no mar, mas tudo é tempo perdido...meses depois ele retoma o seu caminho normal e volta a fluir como nascera; lição essa que ninguém aprende ou fazem que de nada entendem.

O de que mais sinto é ser uma pessoa insignificante em relação a esses episódios de destruição; lamento não ser uma autoridade nesta republiqueta de meia tigela (mas Deus sabe o que faz), e assim nada poder fazer para ajudar no que estivesse ao meu alcance. Um cobertor aqui, outro acolá, nada resolve. Sinais de protesto, abaixo assinados e coisas tais pouco resolvem, além de serem apreciados de maneira muito demorada. As cenas continuarão a acontecer, sem dúvida, e que se preparem para decepções na Usina de Belo Monte, que vai inundar uma área demasiadamente grande, expulsando de seus habitat até mesmo indígenas da região Amazônica.

Estradas desfeitas (mal construídas, isso se depreende pela espessura do asfalto, numa falta de responsabilidade de quem contrata, fiscaliza e de quem as constrói); pontes que são arrastadas de maneira impressionante, pois também pessimamente construídas, com aquela economia que as empresas fazem na hora da execução das obras, reduzindo a qualidade e a quantidade de materiais utilizáveis. Disso, com certeza, participam muitos interessados na divisão do bolo, desde a data da concorrência, que muita vez jê é direcionada para essa ou aquela construtora (pelo menos é o que se lê nos noticiários).

Chocado também estou por outros fatos inusitados: 1) – Enquanto o povo sofria horrores, toda a desgraça possível e imaginária de quem perdeu seus bens e seus familiares, a torcida do Flamengo enchia um estádio com mais de vinte mil pessoas,a fim de prestigiar a apresentação co ex-craque Ronaldinho Gaúcho, que fora importado da Europa, já com mais de 30 anos, por milhões de dólares ou euros. Aqui pra nós, estando eu no governo mandaria que se abstivessem disso e também soltaria os fiscais à rua para apurar direitinho como é que um clube endividado, que recebe patrocínio do governo, pode fazer um investimento tão grande; 2) -- Na sua despedida do poder, o notável homem público Lula concorda com a concessão de passaportes diplomáticos aos seus dois filhos (ambos de excelente conduta), num flagrante desrespeito ao povo que o elegeu, reelegeu e o fez com a doutora Dilma, uma famosa desconhecida, salvo pela sua presença em movimentos violentos em era não muito distante; 3) – Esse mesmo presidente de todos os brasileiros, numa atitude própria de quem pertence ao mesmo grupo de terroristas, ou mesmo pensando num futuro que possa vir em sentido contrário, permite que o criminoso italiano Battisti permaneça no país à custa de nosso dinheiro suado e já tão minguado, isso mesmo depois da votação do STF, que teve a hombridade de deixar a decisão final para ele, presidente, e 4) – Descaradamente, aceita (?) o convite do Ministro da Defesa para passar uma temporada grátis nas dependências de uma fortaleza do exército.

Se em três dias o nosso Luiz Inácio agiu assim tão bondosamente, que dirá nos oito anos em que esteve à frente dos destinos da nação. Não estamos aqui deixando de reconhecer as coisas boas que praticara, mas essas não lhe dão direito de transigir e/ou de se beneficiar do poder, nem mesmo alegando que outros governantes o fizeram desde o descobrimento por Cabral, no ano de mil e quinhentos.

 

 

Fico por aqui.

Prometi me abster de falar de política, mas não me aguentei, pois esta é a minha tribuna. O campo é vasto no particular, poderia dar até vários livros.

Sem revisão de texto.


Acosto, com muito prazer, comentário primoroso da Luna di Primo, a quem agradeço:

17/01/2011 10h24min - Luna Di Primo PRIMA LUA:

Bom dia amigo poeta querido... a natureza está pegando todos de surpresa...para assustar mesmo, para modificar...é o que sempre ouvimos...se não modifica pelo bem modifica pelo mal...se não aprende por bem aprende por mal...e os inocentes (?)sempre pagando tributo maior...mas para um fato desastroso acontecido no nosso Brasil a preocupação do brasileiro tá menor que no caso do Chile...cadê aquela comoção geral daquela época? Onde estão as lágrimas do Brasil daquela época, não faz muito tempo... onde estão aqueles brasileiros que praticamente pararam para 'rezar' por aqueles? O brasileiro não valoriza o seu país e seus irmãos como deve... se fosse la fora estava a maior comoção...sabe porque? Porque sendo lá fora podemos ser ficar sentidos, emocionados e falar, falar, chorar, chorar mostrar as lágrimas (de crocodilo? não sei) sem ter que assumir responsabilidades... Claro, e que fique bem claro o fator exceção ou seja os solidários estão colaborando...mas...e os outros, onde estão? São tão poucos os que estão colaborando... Beijos de Luna (sem revisão-rsrs)

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(T2734045)

17/01/2011 16h17min - Luamor, grato pela interação:

Sim Ansil querido, esta é a tua tribuna e não se abstenha de falar de política não senhor Poeta, onde eu iria aprender? Suas crônicas são mágicas que além de sua crítica/opinião nos traz muita informação com exímio saber, tua voz em forma de letras é necessária aqui. Aprendo muito com você, obrigada amigo, Bjo da lua.

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17/01/2011 18h24min - Célia Matos, grato pela interação, amiga poetisa:

Vejo e sinto este tempo como sendo uma grande provação para todos que estão passando por isso e um aprendizado. Não entendo, por mais que me esforce o motivo de permitirem a construção de residências para abrigar famílias inteiras sabendo do perigo eminente, pois não é a primeira vez que isso acontece, portanto deveriam proibir a venda de terrenos nestes locais e obviamente, as casas não seriam construídas, mas como disse alguém, é de interesse de alguns que isso aconteça, não prevendo essa catástrofe lá se vão amontoando casas de forma absolutamente imprópria, e as ''autoridades políticas'' onde estão??????????? Vejo O POVO ASSUMINDO O COMANDO DA AJUDA, VEJO O POVO TOMANDO EM SUAS MÃOS A DIREÇÃO DA VIDA DESTE POVO QUE SOFRE EM DEMASIA... Choro... Choro muito e continuo vendo tudo isso daqui de tão longe! Meu norte de minas é parecido com seu nordeste e felizmente as cheias não são muito frequentes, mas quando acontecem, sei como ficamos. Ainda sorrio, principalmente quando me vem certa ''encomenda'' na lembrança. Admiro muito você, Ansil. Meu abraço!

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17/01/2011 19h17min - Alga marinha, grato pelo comentário:

Isto fez-me lembrar agora o 11 de Setembro. Estavam mais do que avisados... mas o mais engraçado,sem graça nenhuma, é que depois culpam os governos passados....Ninguém quer saber de ninguém, desde, que não lhes afete. Não podiam ter tomado medidas? Por poucas, que fossem, teriam evitado alguma coisa... Os políticos querem o tacho e o povo, que se dane, para falar português e depressa. É aí, é aqui, é em todo o lado, quase. Parabéns, pela crônica. Meu abraço.

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17/01/2011 23h04min - Raquel Cinderela as Avessas, grato poetisa:

Amigo Ansilgus isso nada mais é do que o reflexo das atitudes do próprio ser humano devemos refletir antes de jogar lixo nos rios, desmatar florestas, maltratar animais, votar em político corrupto, entender que podemos ser um povo pacífico, porém cobrar uma política de habitação mais abrangente e menos paternalista. A natureza não aceita propina e devolve a nós o que damos a ela como uma troca triste, porém justa. Ou aprendemos com o erro meu amigo ou aprendemos com a dor infelizmente. Boa madrugada Mestre... Abraços Raquel.

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17/01/2011 22h46min - nana okida, muito obrigado:

Pois é meu amigo, estou quase mudando meu nome para indignana, tão indignada, com estas situações de descasos. E você abordou um assunto real; quando acontece que tragédia em outros países, os "nossos governantes" mandam toneladas de alimentos, soldados, navios, helicópteros, fazem discursos usando a mídia, etc. Não sei se estou surda/cega, mas, não vi a dona presidenta se pronunciar... Bem, também, coitada, só vai precisar destes pobres daqui a quatro anos. Pra que se incomodar? E tudo isto que está acontecendo no planeta Terra, não é nada mais que a natureza retomando o seu lugar. Pena que só a população mais carente paga o pato. Beijos amigo!

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17/01/2011 21h32min - Neusa Staut, meu abraço:

Parabéns pela sua bela crônica. Seria linda se não fosse esta dura e triste realidade daquele povo sofrido, que perderam não só seus pertences, como várias famílias foram dizimadas, e com isso perderão também a fé e a esperança, porque todo ano é a mesma coisa e ninguém faz nada... ficam na expectativa do que virá no próximo ano...Enquanto isso, alheios a tudo isso.....como vc mesmo já escreveu....faz-se festa para receber um jogador de futebol que ao ver deles, vale mais que tudo no país hoje....é vergonhoso, é uma discrepância...que não dá pra ficar indignado...falei demais tb....Um abraço!!

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18/01/2011 08h30min - lavienrose, grato pelo comentário:

Bom dia!È sempre assim: Descaso total com a política ambiental quanto às moradias em áreas de risco. Depois chora-se pelo leite derramado e gastam-se milhões para tentar consertar.O dinheiro aí aparece e poderia ter sido antes,para que se fizesse uma estratégia evitando tantos desastres ambientais.Até quando?Parece que ninguém se preocupa com nada, vai-se levando como pode, displicentemente.. até que aconteçam catástrofes,para só aí levantarem as vozes.Desperdício de dinheiro,perda de vidas preciosas e inocentes..Enfim..má governança!Abcs.

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18/01/2011 08h22min - Juli Lima, grato pelo comentário:

Bom dia! Profunda e reflexiva composição. Nossa Terra merece q tenhamos orgulho dela apesar dos políticos. Mas lembre q nós os elegemos. Observa q estão querendo inundar a Amazônia... E muitos de nós ficamos indiferentes... Nosso problema é q muitos de nós não tem a sua sensibilidade. Bj poesia

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ansilgus
Enviado por ansilgus em 17/01/2011
Reeditado em 19/01/2011
Código do texto: T2734045
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