Insônia.

TIC-TAC. 10:35 min.Foi o único som em que me concentrei, o irritante relógio, antes de pegar com muito descaso o edredom com a mão direita e passá-lo por cima da cabeça ser um pingo de sono. TIC-TAC. Aliás, sem um pingo era pouco. Sem uma partícula de atomo de sono. TIC-TAC. Recosto minha cabeça sobre o travesseiro, como de rotina. TIC-TAC. Sempre esperando o pior. TIC-TAC. O edredom esquentava o meu corpo de uma forma desagrádavel. TIC-TAC. Começo a pensar no filme de terror que vi semana passada, realmente apavorante. A luz do abajur desligada. Fico imaginando que se abrisse os olhos, a figura sombria poderia estar bem na minha frente. TIC-TAC. Começo a rir de mim mesma por pensar tamanha bobagem. Peço pra Deus a proteção de mim, minha família, amigos, conhecidos, parentes, bichos de estimação, etc, etc, etc e agradeço por tudo. TIC-TAC. Começo a rever as coisas que fiz no dia anterior, podem ser diversas, nesse caso, o do dia 15 mesmo: acordei às seis da manhã me arrumei, tomei café, fui até a casa da minha vó, assisti um programa de televisão chato, almoçei quantidades inadequadas de comida para o meu peso desesperador, escovei os dentes, voltei pra casa, fiquei mongando no pc, brinquei com os bichos de estimação, vi a novela, computador, e agora cama. TIC-TAC. Dia monótono e entediante. TIC-TAC. Começo a pensar nas pessoas que estou com saudades. TIC-TAC. Faço planos para os dias seguintes, bem divertidos e envolvendo comida. TIC-TAC. Mas puxa, estou tão gorda, NÃO sem comida, amanha vou começar a dieta só de líquidos. TIC-TAC. Me declaro sem sono, e abro os olhos. Uma da manhã. Vou até o banheiro, e volto, me enfiando em baixo do edredom quente. Eu o arranco então com ódio. TIC-TAC. Começo a pensar que terei que acordar cedo no dia seguinte. TIC-TAC. Imagino continuações empolgantes pras milhares de histórias juvenis que posto aqui. TIC-TAC. Ajeito o atravesseiro, mudando-o de lado e amassando-o. TIC-TAC. Meu gatinho sobe na cama. Eu o acaricio, e ele me lambe. TENHO QUE DORMIR, DROGA. TIC-TAC. As gotas de chuva começam a martelar na parede. TIC-TAC. Minha respiração começa a ficar mais tensa como um ronco. DETALHE: DE PROPÓSITO. TIC-TAC. Apelo para os carneirinhos: 1...2...3... TIC-TAC. 167.345... TIC-TAC. Canso de imaginar CARNEIROS pulando uma cerquinha. TIC-TAC. Começo a cantalorar uma canção que não me sai da cabeça. TIC-TAC. Zuuummmm... Um pernilongo no meu ouvido começa a me irritar. TIC-TAC. Cubro minha cabeça com o edredom para ver se o barulho irritante do bicho que já desperatara coceira em minha mão, parava. TIC-TAC. Zzuuummm... TIC-TAC. Acendo a luz, com muita raiva, ligo o repelente na tomada, vou até o banheiro e enfio algodão na orelha e me cubro. TIC-TAC. Passa um carro no último volume na estrada. TIC-TAC. - Me empapo de suor, então sou obrigada a tirar de novo o edredom da cara. - TIC-TAC. Imagino minhas imensas olheiras que são promessa pro dia seguinte. TIC-TAC. - Planejo cada passo para o dia seguinte, ou melhor atual. TIC-TAC. Ouço um passarinho cantando. Passarinho? TIC-TAC. Oito e trinta e cinco da manhã. TIC-TAC. O despertador toca, anunciando o meu previsto horário para acordar.

E assim é a insônia. Cotidiana, boba e extremamente: irritante.

Lívia Rodrigues Black
Enviado por Lívia Rodrigues Black em 16/01/2011
Código do texto: T2733665
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