Manhã de domingo
 
A manhã está feia. No céu, nuvens pesadas anunciam mais um dia de chuva. Enquanto isso os passarinhos aproveitam para passear. Em bando, sozinhos ou aos pares. Eu, da janela, com minha digital de poucos recursos, tento captar alguns desses momentos. Não consigo grandes feitos, mas me dou por satisfeita.(http://molimpia.blogspot.com).

A moça passa na rua. Roupa de ginástica, tênis reforçado, uma sombrinha fechada em uma das mãos. Seus passos são tranqüilos, apenas caminham. Eles vão e nem pensam se podem ir ou não. Vão. Não precisam do pensamento para comandá-los. Foi dada uma ordem que não exigiu repetição. Coisas tão simples. Em mim, cujos passos desobedientes se recusam a seguir minhas ordens, o desejo de caminhar sem  rumo. Simplesmente ir, sem pensar em nada. Sem rota preestabelecida, sem lenço e sem documento. Sem carregar nada, nem mesmo a sombrinha ou a bengala de alumínio que nunca pensei usar e que agora teima em sair comigo como um cachorrinho arteiro. 
 
Outra moça passa na rua. Conduz três cachorros bonitos. Ou serão os cães que a conduzem? Não dá para saber. Certamente ela pensa que é ela, mas tenho minhas dúvidas. Eles vão para onde querem, seguem o seu próprio faro. Os cachorros são amarelos, se parecem com o cachorro que inventei personagem de meu livro O Cachorro Amarelo. Eles sempre apareciam em momentos importantes. Mas não estou em livro nenhum. Estou na janela de frente de minha casa em uma manhã tediosa de domingo, pensando na vida.

Alguém liga a televisão. Notícias. São as mesmas. Notícias de tragédias anunciadas, mas que mesmo assim nunca foram evitadas. As notícias doem, mas quando se trata de anônimos a dor é diferente. Agora tenho um nome. Um nome, um nome que não vou anunciar, mas que tocou meu coração de forma especial.  Agora, quando ouço as notícias, vejo seu rosto bonito que só conheço de fotografia e as suas letras que me deram e ainda vão me dar um grande prazer ao lê-las.

Não sei ainda se vou para a cozinha preparar uma pequena refeição ou se vou comer fora. Na minha rua tem um belo restaurante. Espero nossos hóspedes se definirem. Se vierem mais cedo, comeremos fora, não estou preparada ainda para cozinhar para muitos. Se vierem só mais tarde cozinharei para três. Ou para cinco. Ainda não sei. 
 
Abro o blog de minha irmã Regina e vejo como ela passou o dia. (
http://catarinaregina.blogspot.com). 11 graus negativos não é coisa que eu deseje para mim. Mas comer chocolate belga, sim. Passei pela Bélgica faz pouco tempo. Conheci alguns lugares e me encantei. Quando penso que meus passos não podem mais ir livremente para onde querem fico pensando se valeu a pena todo chocolate que comi. Mas acho que não me arrependo, não. Comer chocolate é uma glória total. O blog da Regina é muito bonito. Não é um blog literário, é um lugar onde ela coloca as coisas bonitas que a encantam. Para as pessoas que curtem isso vale à pena visitar.

Na sala de jantar o relógio avisa: dez horas. Está na hora de descer, comer uma fruta, uma gelatina, um iogurte. De decidir   se faço ou não o nosso almoço. Lá fora um tímido raio de sol atravessa as nuvens escuras e entra em meu quarto. O reflexo de um móbile de cristal passeia pela cama. Ouro sobre azul. É uma bela imagem.Talvez um sinal de esperança. Se eu estivesse em um livro, seria.