CRÔNICA – Se eu tivesse um diário...

 

CRÔNICA – Se eu tivesse um diário – Em 08.01.2011

 

            A nossa vida é cheia de altos e baixos. Isso é a verdade de praticamente todos os humanos (será que eu o sou?).

            Hoje acordei, ao contrário de ontem, bastante alegre, assobiando, cantarolando músicas do meu tempo. Pulei da cama e fui correndo para o quintal, onde tenho minha horta e um pomar, apesar da pouca superfície disponível.

            No horizonte o sol aparecia lindo como sempre, dando sinais de que haveria praia pra todo mundo. Bem, aqui no nordeste sofrido do país, existem muito mais dias de sol do que de chuvas; morre-se de sede nas épocas de secas, e afogado quando o inverno vem brabo.

            As plantas não estão bem cuidadas, notadamente as verduras e legumes (coentro, cebolinha, tomate, cenoura, couve, maxixe, jerimum, pimentão, pepino, pimenta, quiabo, beterraba, feijão, milho e repolho, este de quando em vez, e até macaxeira, um tubérculo não muito exigente em matéria de água), porquanto, apesar da existência de três poços artesianos o sol é causticante, não havendo como suportar o calor, eis que o caseiro toma mais cachaça do que trabalha. Já na parte do pomar as coisas estão bem melhores (coco (25 pés), abacate, caju, manga rosa e espada, jambo, abacaxi, maracujá, banana, limão, sapoti, melão e melancia).

            O vício do álcool é uma doença parecida com narcóticos. Não tenho coração para colocá-lo no olho da rua, além do que já conta mais de quinze anos de serviço, e quando está lúcido trabalha como ninguém. Recebe em dia todos os direitos trabalhistas, isso além dos pagamentos de encargos de INSS. Mora aqui mesmo com a sua preta veia... Pra que vida melhor?!

            Sabe, mandei fazer umas formas de aço (100 cm x 0,40 x 0,40), que possibilitam o cultivo muito bom de verduras (Tomate, pimentão, quiabo, por exemplo, cabem duas plantas em cada, mas em se tratando de coentro e cebolinha a produção é maior). Com as formas foram produzidos os módulos de concreto e vão durar anos a fio para se acabar. Se todas as pessoas pudessem assim proceder, a economia com supermercados seria vantajosa.

            Mas voltando ao fio da meada: Animado, comecei a colher o que seria consumido durante o dia, tudo fresquinho, sem agrotóxicos (todos os anos compro uma carrada de estrume), pois quando a secretária chegasse já estaria tudo a sua disposição.  Parece um relógio, nunca chega depois das 07:00 horas da manhã; meu apego a ela é como se fora de filho pra mãe, pois gosta muito de mim. Quando de minha última cirurgia, moribundo que estava me acabando de magrinho, ela com muito jeito me fazia alimentar... Uma colherzinha de sopa aqui outra acolá, e eu fui assim como que renascendo para a vida.

            “Se a morte é um descanso prefiro viver cansado” é um ditado popular de muitos anos. Tenho medo de morrer dos seiscentos diachos. Nem sei por que Deus inventou esse negócio de a gente se apagar obrigatoriamente. Essa é a única criação que Dele discordo. Que me desculpem a heresia.

Terminada a colheita, fui para o quiósque que fica assim bem junto à beira da praia, de onde pude ver a beleza dos raios do sol, e da água do mar que nela refletia. Bati algumas fotos do firmamento. Comecei a fazer reflexões sobre a vida, o momento atual em que estou passando, e até mesmo me elogiando pela providência de construir essa razoável morada, que já fora um recanto preferido por familiares e amigos. Hoje se encontra relegada talvez à terceira opção, não de mim, claro, pois chova ou faça sol é muito difícil deixar de vir para este que é o meu verdadeiro recanto. Sabe, há momentos em que penso que o sol é a lua do dia e a lua o sol da noite...

            Detalhe é que adoro viver somente de bermuda, sem camisa, solto, pescando nas jangadas que construí de madeira com isopor (uma delas, por sinal, ficara ao relento por uns três anos, e haverá prejuízo quase total). Adquiri uma em fibra, mas pouco a uso. Sou um sujeito corajoso, pois não sei nadar um metro sequer, mas de vez em quando vou para o mar alto, com colete salva vida, evidente. O de que mais tenho medo nessas viagens é cair e um peixe carregar a minha formosa isca... Comigo vão duas ou três pessoas que são exímios nadadores.

            Mas as pescarias sempre terminam aqui num lugar chamado “Bar do Doido”, na base da Brahma geladinha e da galinha cabidela, pois de peixe já estamos enjoados...

            Por sinal, tenho de parar por aqui, pois os caras já chegaram e estão me pressionando para desamarrar a jangada e partir em rumo ao quase desconhecido... E por incrível que pareça a funcionária também acaba de chegar para o meu café. Assumo o comando do meu bugre amarelinho e vou seguindo... Depois continuamos... Se eu voltar, claro!


Em construção/revisão.

 

 

 

 

ansilgus
Enviado por ansilgus em 16/01/2011
Reeditado em 16/01/2011
Código do texto: T2732369
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