SOTERRADOS
* Classifiquei este breve texto na categoria crônica, mas acredito que esteja mais para o conto, ou mesmo uma mistura dos dois. Este texto foi escrito para atender ao pedido de MARÍLIA PAIXÃO, nossa colega e amiga deste site. Fico tão honrada com a gentileza de Marília que nem sei mesmo como demonstrar o meu agradecimento. Logo no começo da tarde de ontem/ ou anteontem, esqueci... , fiquei meio sem saber como faria, o que escreveria. Cheguei ao meio do texto ainda sem definições de personagens e, depois, não sabia como concluir . Teria quer ser breve, pois esta é a recomendação de Marília. Matei os personagens! O que achei interessante foi que, ao acompanhar o noticiário, pela noite, eis que falam de uma história real, acontecida no Rio de Janeiro. Um casal de jovens foi vitimado pela fatalidade e encontraram os dois mortos ao lado do álbum de fotografias do casamento. Fiquei chocada e impressionada.
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SOTERRADOS
Um lar, um marido e filhos era o sonho da moça. Mais que isto não pedia. Inscrevia-se em todos os sites de relacionamento e ficava ansiosa pelos pretendentes. Muitos se apresentaram. Diferentes perfis e propostas. Analisou tudo, comprando com suas expectativas. Quanto mais gostava da proposta e do perfil, menos apreciava as fotos. Uns avançados na idade, oriundos de casamentos fracassados, filhos problemáticos. Desconfiava disto, sempre considerou que o fim de um relacionamento era culpa do homem. Fez mais umas avaliações, pesou pra lá, pesou pra cá e se decidiu por um intermediário. Nem rico e nem pobre, nem feio e nem extremamente belo (preocupava-se com a concorrência), solteiro e bem intencionado.
Não demorou e chegou a resposta afirmativa. Estava interessado nela, queria um lar, uma esposa e filhos. Tudo pela ordem dos fatores que não altera o produto.
Judite começou a se comportar como noiva, preparava o enxoval e caprichava no visual. Achava-se melhor ao espelho, mais sorridente e a pele brilhando. Sonhava casando com Gilbert na capelinha de sua cidade. Nome de príncipe, já estava apaixonada. Fazia planos quanto aos nomes dos principezinhos e princesinhas. Enfim, tudo preparado, até a lista de convidados para o enlace matrimonial.
Judite e Gilbert, enfim, encontraram-se no aeroporto. Ele trazia rosas vermelhas e um enamorado sorriso no rosto. O amor confirmado.
Na estrada de casa para o aeroporto, começou a chover e veio na direção do taxi um mar de lama e barro que soterrou o automóvel. Dois dias depois, os bombeiros encontraram os corpos de Judite e Gilbert abraçados. As flores estavam intactas.