Lembrança de criança
Desde criança, o vento sempre a irritara. Não sabia bem o porquê, nem havia motivos, era como se ele mexesse com sua mente e atordoasse seus pensamentos.
Então, em dias de vento trancava-se em casa e sequer saia para brincar.
Certa noite enquanto dormia e sonhava, finalmente resolveu enfrentar o vento, lutar com ele e pedir-lhe não a importunasse mais.
Era uma tarde ensolarada e assim que se pôs a caminhar pelo belo jardim de sua casa, pôde ouvir o vento lhe sussurrar ao pé do ouvido.
Sorrateiramente tocou-lhe a face como um afago suave e fresco e ao invés de repulsa sentiu grande deleite.
Caminhou mais um pouco e pôde ouvir sons que nunca antes havia escutado, pareciam melodias de ninar.
As árvores e galhos balançando, eram como chocalhos se agitando suavemente e a cada mergulho das aves cortante através do vento, eram como flautas solfejando.
Havia também uma dança no ar, as folhas ao som do vento bailavam por horas a fio sem tocar o solo, como bailarinas flutuantes.
Mas, o melhor de tudo, era o aroma que o vento misturado com as flores deixava emanar.
Fragrâncias de muitas flores misturadas à seiva dos troncos das árvores inebriavam a menina que quando se deu conta estava a bailar ao som do vento.
Estava tão feliz, que aquela antipatia que outrora sentia, deixou de existir e passou a saborear os encantos que o vento lhe proporcionava.
Fechou então seus olhos, mas, ao abri-los novamente percebeu que estava em seu quarto, em sua cama e que infelizmente tudo não passara de um belo sonho e que ao primeiro dia de vento que houvesse tornaria a sentir-se incomodada novamente e entristeceu-se.
Foi quando se levantou e correu até a janela de seu quarto e assim que a abriu, sentiu uma grande lufada de vento sobre sua face desalinhando seus belos cabelos louros.
E qual surpresa?
Reviveu com a mesma alegria todos os belos momentos da noite passada.
Vestiu-se apressadamente e saiu de encontro ao seu mais novo e querido amigo: O VENTO.