A NATUREZA
 
Estou com sentimentos tristes, desalentados. Indefinidos, meio que de propósito por sofrer e não querer. Apenas descansar para os pés desincharem. A tragédia da Serra é bem próxima á região do meu Catetinho e sítio. Há mais de trinta anos caiu uma tromba dágua na entrada da terra da família e que era parte da clínica da minha mãe. Houve um desmoronamento do morro da entrada e soterrou um homem, empregado e seu filho, menino. E a força da água destruiu a estrada que passava sobre um riacho canalizado no local fazendo uma cratera sem passagem para veículos e pessoas. Lembro desse dia.
A noite ficou mais escura que o normal, um negro escuro seguido de um som no ar, atemorizante e desconhecido. Em seguida um estalo ou estrondo, era a tromba dágua caindo e desestabilizando a terra perto do riacho.

No dia seguinte, vi minha irmã Christina descendo pelo pasto com seu marido Jaques, seus dois filhos o Altivo e o Jaquinho e uma menina de dez anos, filha do empregado que morrera soterrado. Veio direto para minha casa e para mim, que era o mais certo a fazer mesmo. Todos estavam chocados, mas alegres de ter outra casa e bem-vindos a ela.
 
Deixaram tudo para trás com medo de mais terra cair sobre a casa deles. Nosso encontro foi de amor e confraternização, que é o sentimento da solidariedade.
A estrada para a cidade ficou também coberta de lama tão alta que era difícil até para passar a pé. E ficamos incomunicáveis, por algum tempo.

Atualmente, neste mesmo lugar aconteceu o mesmo de novo. Ninguém foi ferido desta vez.

E fui informada que água do riacho principal saiu do seu leito delicado, arrastou todas as bananeiras e ocupou a estrada de terra que vai para a cidade.
 
A Natureza se repete.

Fala.