ENCHENTES NO RIO E EM SÃO PAULO: CASTIGO DOS DEUSES OU INSENSATEZ DOS HOMENS?

Na década de 70, um escritor americano chamado Adouls Huxley disse uma frase que ainda ecoará por milhares de anos: “Se o homem destruir a Natureza, a Natureza o destruirá.”

Os números ainda são parciais mas, à medida que a água baixa, as pás, retroescavadeiras e tratores retiram a lama, novos cadáveres aparecem. Na região serrana do Rio de Janeiro, até o dia 14 de janeiro de 2011, contabilizavam-se mais de 540 mortos nas enchentes e deslizamentos. Em São Paulo, são milhares de desabrigados, cidades foram arrasadas e os prejuízos são incalculáveis. No mesmo jornal de hoje, podemos ler outras manchetes tenebrosas.

Seca deixa onze cidades do Rio Grande do Sul em estado de emergência –

Chega a 79 o número de cidades em situação de emergência em Minas Gerais –

Na Austrália enchentes destroem cidades e mata mais de cem pessoas –

O que é isso? O fim do mundo? O dia do juízo final? Mas o fim do mundo não está previsto para o dia 12 do 12 de 2012, como dizem os arautos do Apocalipse? Em uma reportagem feita na cena das calamidades em Itaipava-RJ, uma criança com menos de 6 anos de idade disse com o olhar assustado: “eu pensei que era o mundo que estava acabando...” Ele ainda não sabe que tão cedo o mundo não acabará. Não é o Planeta Terra que é frágil. Nós é que somos frágeis. Os seres humanos é que são insensatos, gananciosos e inconseqüentes em seus atos. A Natureza tem resistido a catástrofes muito piores do que as que temos produzido. Nada do que façamos destruirá completamente a Natureza. Ela é milhões de vezes mais poderosa. Por outro lado, acontecimentos trágicos como enchentes e tempestades como temos visto nos últimos dias mostram que podemos ser facilmente destruídos pela força bruta da Natureza.

O Escritor português José Saramago, recém falecido, disse em seu livro “Ensaio sobre a Cegueira”: “... se antes de cada ato nosso, nós pudéssemos prever todas as suas consequências, iríamos pensar nelas a sério, primeiro as imediatas, depois as prováveis, depois as possíveis, depois as imagináveis, não chegaríamos sequer a mover-nos de onde o primeiro pensamento nos tivesse feito parar.”

As chuvas sempre ocorreram desde que o mundo é mundo. Terremotos, vendavais, nevascas, incêndios florestais, avalanches, enchentes e outras manifestações naturais sempre acontecerão. Os rios vão transbordar, os mares vão encapelar suas ondas... mas o que fazem os seres humanos? Constroem suas casas nas margens dos rios, nas encostas das montanhas, na beira de penhascos, em regiões impróprias e inseguras. Constroem edifícios de 10, 20, 40, 50, 100 andares, como a querer tocar os céus. Ou será que as pessoas que constroem suas casas em locais tão impróprio, não tinham escolha? Os governos permitem tais construções porque não possuem terras e recursos para prover a todos com habitação satisfatória? Isso se chama omissão, descaso. Os governantes deveriam ser punidos por tamanha irresponsabilidade. São eles os gestores dos bens públicos, são eles que têm o poder fiscalizador e executor das políticas públicas voltadas para o bem comum.

A Natureza joga na cara a realidade nua e crua... destroem tudo o que está em seu caminho e logo o dinheiro, os recursos aparecem como por milagre. É dinheiro do próprio povo. Era esse dinheiro que deveria ser usado para prevenir e não para remediar e deixar tudo do mesmo jeito, até que ocorra uma nova catástrofe.

Os cientistas e ambientalistas têm falado das conseqüências dos nossos atos no dia a dia, quando jogamos material plástico nos rios, atiramos lixo nas ruas que tapam os bueiros; muitas pessoas não reciclam o lixo, pois acham que é tolice. Muitos consomem qualquer produto sem se perguntar se estão ajudando a poluir o mundo e quando ocorre uma catástrofe, acham que é castigo de Deus.

É uma pena que somente com a dor e o sofrimento muitas pessoas acordam e percebem o mal que estamos fazendo ao mundo. De nada adiantará reconstruir as casas, ruas e cidades nos mesmos lugares de antes achando que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Em Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo cai sim, dezenas de vezes. Cairá outra vez, prevêm os metereologistas.

As soluções pelas quais os governantes têm optado são as chamadas medidas de emergência. Deveriam implementar medidas preventivas. Em vez de gastar bilhões para socorrer vítimas, deveriam investir esse dinheiro na construção de cidades estruturadas em locais seguros e livres dos perigos mais comuns. Em todas as grandes cidades do Brasil, sabemos que existem milhões de pessoas vivendo em situação de risco, empilhadas em casebres e em favelas. Eles serão as próximas vítimas. Os governos enviarão socorro emergencial, pás, tratores, escavadeiras para remover e depois congelarão as vítimas em caminhões frigoríficos, como estão fazendo hoje no Rio de Janeiro.

Enquanto as populações não conseguem dormir com medo de uma nova tempestade, os governantes estão dormindo a sono solto em seus palácios, abrigados pela segurança de suas moradias reforçadas, bem guardadas e livres de perigos. Quando a chuva passar, voltarão sorrindo a pedir votos prometendo fazer o que nunca fizeram, fazem ou farão.

Nós somos pássaros do mesmo ninho, podemos usar diferentes peles, falar em diferentes línguas, acreditar em diferentes religiões, podemos pertencer a diferentes culturas, no entanto, compartilhamos o mesmo lar – o Planeta Terra.

Nascemos no mesmo planeta, cobertos pelo mesmo céu, admiramos o mesmo sol, lua e estrelas, respiramos o mesmo ar, nosso alimento vem da terra e dos mares. Os seres humanos desde pequeninos deveriam aprender que ou cuidamos do mundo em que vivemos e progrediremos juntos, ou, se maltratarmos o planeta, miseravelmente, sucumbiremos juntos, pois, o homem pode viver individualmente, mas só pode sobreviver coletivamente.

"Podemos escolher o que semear, mas somos obrigados a colher aquilo que plantamos", diz com sabedoria um provérbio chinês.

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(*) Mathias Gonzalez é psicólogo e escritor.

http://mathias.gonzalez.sites.uol.com.br/

Presidente do Movimento de Ampliação da Consciência Ecológica - MACE

Passe uma boa idéia ecológica adiante... mas dê exemplo. (MG)