Minha Vida...Um deserto...e um dia após o outro.
Manhã de sexta-feira. Eu acordei e fui direto a parte externa da casa tomar um café, fumar um cigarro e retomar a leitura de um livro do Pe. Fábio de Melo, pausada na noite anterior. Toda a minha atenção voltava-se para as muitas reflexões que sugeriam os textos, no entanto o sol tocava-me a nuca sutilmente, mas não incomodava. De repente fui surpreendido pelo canto dos pássaros nos arredores da casa. Da primeira vez, disfarcei e continuei a leitura. Aos poucos a sonoridade da natureza adentrava os meus tímpanos ao tempo em que me levava a outras possibilidades de reflexão. Emudeci por uns momentos e fechei o livro voltando a atenção para os bem-te-vis que ousavam chamar o meu apreço. Eram vários, só não sei o número exato, mas um chegou-me bem perto, no telhado da casa ao lado e, sorrateiramente, roubou minha concentração naquela leitura e passei a ler o mundo de meu coração, que sofria por tantos problemas. Eu estava arrasado em virtude das dificuldades do dia-a-dia, plantadas e colhida a prazo mínimo. Os bem-te-vis são pássaros urbanos que convivem em meio a pessoas fazendo morada em árvores indistintas fincadas no jardim do tempo em frente às casas, praças e outros locais. Esses pássaros têm características nômades por habitarem várias moradas sem a concretização definitiva. Eu me enxergava agora, nessa situação. Estava eu, como um pássaro nômade, pronto para voar, mas sem saber onde chegar. Os bem-te-vis geralmente, escolhem árvores que tenham frutos suculentos e atraentes, de preferência em número grande. Eu, talvez nem fizera tal escolha. Tudo era tão doloroso que me ardia a alma numa brasa interminável. Eu dormia com um problema e acordava com dois. Sempre era assim de uns tempos para cá. Sentia como se uma frustração imensurável apodera-se de mim e fizesse morada em meu coração obrigando-me a desconstruir passos e perder a fé na vida. Ao tempo em que lia Pe. Fábio em Mulheres de Aço e de Flores, me apareceram os pássaros com seus cantos imponentes, aguerridos roubando as cenas que se projetavam em meu pensamento. A habilidade com a leitura e escrita para o mundo, sempre me foi companheira fiel, mas quando da necessidade de voltá-la para mim, o meu instinto impunha fatores que congestionavam-me, e então eu caía num universo do sofrimento anunciado pela displicência coma vida. Ora um amor, alicerçado nos devaneios da vida e sustentados no ápice do descaso emocional e pessoal. Um amor cujo objetivo de lidar com ele me fizera omisso consigo e ainda, com tudo o que eu havia construído ao longo da vida árdua e, de certa forma, solitária. Os pássaros ali, seriam um sinal da presença de DEUS? Este SER onipresente de quem, por certos momentos, esqueci? Creio em tudo, em todas as fortalezas que advêm da natureza, cuja projeção enaltece a vida humana. DEUS sinalizava sua existência em mim. ELE sustentava-me nas dores, no sofrimento que ora batera e apossara-se de minha vida. Ser pássaro é muito fácil, nasce com asas, voa livremente, faz morada onde chega, para ao longe e observa de perto uma infinidade de sugestões. Escolhe os locais para fazer a morada e vive na perspectiva de apenas lidar com a vida apenas na sua realidade. E eu? Pássaro humano? Talvez sim, bem-te-vi, pardal ou beija-flor, eu posso ser, pois DEUS permite que eu assim o seja e com asas acionadas pelo livre arbítrio eu construo as atitudes a cerca da vida. Basta que eu tenha a humildade de reconhecer os erros e convencer-me em não insisti-los. Quem sabe um dia, seja eu o pássaro a roubar a atenção de alguém e fazê-lo capaz de tocar o íntimo do coração e os espaços preenchidos pelo sofrimento. Assim, sou pássaro, quero mais é voar e experimentar da vida bela na sua simplicidade, e viver sem a pressa de adiantar o relógio que possibilita viver com intensidade, um dia após o outro. Se hoje minhas lágrimas transbordam em meus olhos escoando e refletindo a tristeza do meu interior, certamente mais tarde transbordará toda a alegria, ora represada em mim e cada dia renovarei minhas esperanças de que viver o momento de sofrimento é o melhor remédio para construir toda uma vida com as alegrias que nos esperam.
Rônet Alves de Matos
Fortaleza-CE, manhã de 14 de janeiro de 2011.