Retrato do mês.
Janeiro é um mês chocantemente previsível. Embora seja considerado um mês de começos tudo o que acontece nele é velho. A chuva por exemplo. Todo janeiro chove em grandes áreas do país e, no entanto nada muda. Alagamentos, afogamentos, desbarrancamentos, desabamentos. A economia que se dane, tenha prejuízo quem tem que ter, nada, absolutamente nada muda. E se mudança ocorre é para pior.
A gente dorme e está chovendo, a gente acorda e a chuva continua e quem tem um teto livre das intempéries quando se lembra de sentir-se grato, sente-se mais é culpado por estar grato, ter um teto e uma cama seca para dormir. Quando olho pela janela penso que até pode ser meu último olhar sobre as coisas antes que o mundo termine em água apesar de essa não ser a perspectiva profética.
Tenho duas histórias familiares sobre a força das águas embora nenhuma delas tenha atacado a mim diretamente, mas há muitos anos atrás as águas do Turvo Pequeno avançaram pelo quintal da casa de minha avó e atingiram o depósito do armazém de meus tios que era no porão e carregaram todo o sal das sacas que ali estavam. Não tenho certeza se vi isso ou se me foi contado, mas se apenas contado foi, ficou tão gravado em minha mente que até hoje vejo os sacos vazios boiando como fantasmas afogados.
Em tempos mais recentes as águas invadiram a loja de meu cunhado, engenheiro agrônomo, que trabalhava com grãos e também levou tudo. É claro que os prejuízos materiais foram enormes, mas nada se compara a perda de vidas humanas. Dessas pelo menos nos livramos.
A força da água impressiona. Arrasta tudo com uma facilidade que nos deixa boquiabertos. Frente a ela não existe nenhuma garantia. Nem móveis, nem imóveis tudo é levado como se fosse uma pluma. A vida passa a valer nada, famílias inteiras podem desaparecer e nunca mais serem encontradas.
Quando vejo as cenas de horror na televisão, fico indignada. Sei que minha indignação não resolve nada, que não passa de um sentimento alterado da minha consciência, mas é assim que me sinto. E certamente sou grata por reter comigo este sentimento que me faz mais humana. Quando perder esta capacidade de indignar-me com essas situações certamente sofrerei menos – mas também valerei menos do que um galho seco levado pela enxurrada.
Janeiro é um mês chocantemente previsível. Embora seja considerado um mês de começos tudo o que acontece nele é velho. A chuva por exemplo. Todo janeiro chove em grandes áreas do país e, no entanto nada muda. Alagamentos, afogamentos, desbarrancamentos, desabamentos. A economia que se dane, tenha prejuízo quem tem que ter, nada, absolutamente nada muda. E se mudança ocorre é para pior.
A gente dorme e está chovendo, a gente acorda e a chuva continua e quem tem um teto livre das intempéries quando se lembra de sentir-se grato, sente-se mais é culpado por estar grato, ter um teto e uma cama seca para dormir. Quando olho pela janela penso que até pode ser meu último olhar sobre as coisas antes que o mundo termine em água apesar de essa não ser a perspectiva profética.
Tenho duas histórias familiares sobre a força das águas embora nenhuma delas tenha atacado a mim diretamente, mas há muitos anos atrás as águas do Turvo Pequeno avançaram pelo quintal da casa de minha avó e atingiram o depósito do armazém de meus tios que era no porão e carregaram todo o sal das sacas que ali estavam. Não tenho certeza se vi isso ou se me foi contado, mas se apenas contado foi, ficou tão gravado em minha mente que até hoje vejo os sacos vazios boiando como fantasmas afogados.
Em tempos mais recentes as águas invadiram a loja de meu cunhado, engenheiro agrônomo, que trabalhava com grãos e também levou tudo. É claro que os prejuízos materiais foram enormes, mas nada se compara a perda de vidas humanas. Dessas pelo menos nos livramos.
A força da água impressiona. Arrasta tudo com uma facilidade que nos deixa boquiabertos. Frente a ela não existe nenhuma garantia. Nem móveis, nem imóveis tudo é levado como se fosse uma pluma. A vida passa a valer nada, famílias inteiras podem desaparecer e nunca mais serem encontradas.
Quando vejo as cenas de horror na televisão, fico indignada. Sei que minha indignação não resolve nada, que não passa de um sentimento alterado da minha consciência, mas é assim que me sinto. E certamente sou grata por reter comigo este sentimento que me faz mais humana. Quando perder esta capacidade de indignar-me com essas situações certamente sofrerei menos – mas também valerei menos do que um galho seco levado pela enxurrada.