Minha quadra de ases está próxima, após os sonhos desfeitos em éter.

O ano começou e alguns planos julgados como certo, agora escapam entre os dedos como areia fina. Um sensação de desconforto misturada com alívio invade as idéias tortas preenchidas em folhas de papel reciclado.

Inexplicável! As linhas estavam bem distribuídas, o texto bem formatado com idéias inovadoras e um requinte de detalhes. Hoje a visão do mesmo projeto é o desdém, a insegurança invade cada estrofe, o discurso soa vulgar e até mesmo surreal.

Os planos do ano anterior a pouco transformados em éter, o passado guardado na gaveta com desvelo se faz empoeirado, cansado e por muitos esquecidos.

Lágrimas de insatisfação insistem em brotar a alma temerosa frente ao acaso. Julgava ser possível buscar naquela velha história uma continuação sem sofrer interferências externas.

As portas aparentemente acolhedoras fecham-se todas ao mesmo tempo em frente aos meus sonhos mais caros. Os rostos sorridentes, agora são pedra e ao tocá-las viram pó.

Os caminhos até então verdes de chão batido, agora é tortuoso, cheio de armadilhas. A vida tornou-se um grande tabuleiro de xadrez, e as peças representam cada pessoa antes julgada amiga.

O ano novo revela detalhes de um castelo de cartas, que ao qualquer movimento desmorona, espalhando valetes, reis de espadas, damas de ouro, rainha de copas. O jogo mudou repentinamente, melhor recolher as peças do tabuleiro.

Esse momento preciso guardar a menina no peito, encarar os desafios da realidade bruta e aprender a blefar, usar o raciocínio lógico, não demonstrar meus sentimentos, calcular reações e gestos. Pelo menos durante a batalha de uma concorrência inflexível, burra e temerosa de sua própria falta de capacidade. Trocar o rosa pela a armadura de Jorge, defender-me com seu escudo e atacar com maestria o coração feito de cabaça dos rostos de pedra.

Lavar na fonte da vida o meu espírito de toda amargura e medo, rasgar as folhas de papel reciclado e queimá-las na fogueira das vaidades.

Momento de colocar novas folhas em branco na mesa e buscar no alívio do princípio a sensação do novo desafio, usar da experiência adquirida na queda para fincar a minha bandeira.

Minha quadra de ases está próxima, abram as cortinas para o novo espetáculo, o ano novo já chegou e em breve ficará velho como meus sonhos desfeitos em éter.

Lu Portaux
Enviado por Lu Portaux em 13/01/2011
Código do texto: T2727040
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