Gente normal me cansa
Gente normal me cansa. Cansa porque não acrescenta em nada. Cansa porque não fede nem cheira. Aliás, gente normal gosta de precisão, odeia sentimentalismo, é repleto de preconceito.
Gente normal concorda com a lei, acredita que ser diferente é rebeldia e que escolher uma pessoa entre mil não está com nada. Gente normal confunde informação com conhecimento, é “Maria vai com as outras”, é “João vai com o resto”. Gente normal fala mal de todo mundo, enquanto se diz repleto de amigos. O normal é hipócrita. É reprimido. É enrustido. É opressor.
O normal se vê nos gestos, nas caras, nos comportamentos. O normal está nas ruas, nas vilas, nos bairros, na zona, na televisão. O normal está na chapinha do cabelo, no loiro mais vendido das tinturas, naqueles rostinhos iguais, nas cabecinhas vazias, no Bush, nos olhares que adoram ditar o que é certo e o que é errado, o que é feio e o que é bonito. E quem não é normal, é feio demais.
O normal não sabe ser feliz, porque se esconde através de uma máscara cheia de cinismo e arrogância, prepotência e temor. O normal tem medo de ter dentro de si o que sempre repreendeu nos outros. O normal não se dá liberdade, porque vive preso ao tempo, ao conservadorismo, aos antigos hábitos e às punições religiosas e sociais.
O normal fica sempre em cima do muro, no meio termo, não é oito nem oitenta. O normal é cada coisa um dia ou é a mesma coisa a vida inteira. O normal não conhece o equilíbrio, não conhece o gostoso de ser o que quer, de fazer o que gosta.
O normal não tem rosto, não desperta curiosidade e tem uma visão tão bitolada da vida que só enxerga o que tem a sua frente. O normal tem um mundo de novos conceitos dentro de si, mas prefere acordar no silêncio da vida a dormir na agitação de ser feliz. O normal não imagina o quanto é bom ser livre para pensar.