Tudo por um sorvete
-“ Pode comprar sorvete, mas tem que trazer para todo mundo.”
Essa resposta a menininha já esperava. Era sempre a mesma. Lá ia ela comprar quatro sorvetes de bola, falando pelo caminho os sabores que os irmãos tinham escolhido, para não esquecer: coco, coco queimado e creme. O dela escolheria na sorveteria. Voltava com quatro bolas derretendo até os cotovelos, pelos dois quarteirões até em casa. Não entendia muito porque a mãe sorria enquanto distribuía o pequeno tesouro para as outras crianças.
Quanta lição numa atitude bizarra. Aprendeu a não ser egoísta, a ser solidária, a dar valor às pequenas coisas e pequenos prazeres. Tomar sorvete em família dava uma sensação de pertencer a um grupo. O sacrifício de sujar os braços e o vestido era totalmente sem importância por uma causa maior: todos ficarem contentes.
Nos tempos do acontecido não havia na cabeça da garotinha uma concepção filosófica do fato, mas anos depois, analisando e comparando com a atitude de crianças que roubam o sorvete do irmão, empurram para que ele caia no chão, e não querem dividir o que têm, a lembrança da infância deu o que pensar.