JÁ NÃO SE BRINCA MAIS COMO ANTES
Lêda Torre
Como é gostoso viver de lembranças boas, principalmente quando temos a ousadia de nos denominarmos poetas. O poeta de modo geral, sempre é um sonhador, um eterno saudosista. Tudo que já vivemos, é motivo de curtirmos as velhas lembranças da nossa infância, da nossa adolescência, essas coisas.
Não só o que vivemos de bom, como também jamais vamos esquecer das lembranças tristes, das decepções, das dores da vida, como a perda de entes queridos como era meu pai. Mas o que quero fazer uma referência, é quanto as nossas brincadeiras deliciosas, que para nós a noite era uma criança.
Como somos cinco irmãs, três irmãos, lá em casa tudo era dividido e compartilhado. Inclusive as tarefas. Havia uma tabela por semana. Cada pessoas tinha escalada a sua parte. Como era costume nosso jantarmos cedinho da noite e, a próxima tarefa, seria a lavagem dos pratos e panelas que por ventura estavam sujos do jantar.
Depois de tudo certinho, a próxima etapa, era brincar até nossa mãe nos chamar para entrar, tomar banho, escovar os dentes, rezar e dormir. Só que as brincadeiras eram todas organizadas pela Socorro, "moça velha" da nossa rua, como assim chamavam-na, e ali na nossa calçada, ela comandava o grupão. Ficávamos todos numa roda, e ela com sua voz de comandante, dizia que brincadeiras seriam naquela noite. Brincávamos logo de Terezinha de Jesus, do Alecrim dourado, Fui na Espanha, Feioso Tralalá, Atirei o pau no gato, Margarida, Se esta rua fosse minha, Trisca Trisca, Boca de Forno, Cai no poço, Escravo de Jó, Anel, dentre tantas. A noite passava rápido para nós. Éramos incansáveis, elétricos, cheios de gás, mas quando dava dez horas, as luzes da cidade apagavam, e acabava ali a rodada do dia. Cada um ia para suas casas de volta, e tudo começaria de novo.
Mas todos éramos disciplinados. Brincávamos só até as dez da noite, porque a cidade não tinha energia elétrica de hidrelétrica, era de motor a diesel. As luzes só ficavam acesas até aquele horário. Mas como era maravilhoso brincar, e brincar sem nenhum compromisso, como se tudo fosse nosso. A noite, a lua, o vento, a brisa da noite, a rua, as pessoas, e todas as coisas que compunham aquele contexto. E sempre na minha veia de poeta, estou a lembrar-me destes momentos maravilhosos que vivemos, intensamente.
O importante disso tudo era a disciplina com as ordens de nossas mães, com o horário, e a brincadeira era somente depois de termos feito as obrigações de casa, lógico. E ninguém ousava desobedecer, senão brincar, nem tão cedo. Passaríamos até um mês ded castigo sem nem colocar a cara na porta da rua. E na nossa infinita pureza, nada fazia com que nossa brincadeira fosse cancelada. Na verdade, éramos felizes e não sabíamos.
__São Luis, 12 de janeiro de 2011_____