Revogação da fila indiana

Uma das instituições mais democráticas que existem –talvez a principal- é a fila indiana, baseada na precedência seqüencial na ordem de chegada do cidadão para atendimento em qualquer estabelecimento público ou privado.

Nem o atendimento preferencial a idosos, gestantes e portadores de deficiência física deve burlar o respeito à fila no atendimento aos demais cidadãos, daí o fato de o atendimento preferencial ser feito em fila exclusiva.

Alguns estabelecimentos bancários, e mesmo os correios,no entanto, por causa da obrigação legal de atendimento num prazo máximo de quinze minutos ,vêm desrespeitando sutilmente a fila indiana, através da distribuição de senhas conforme o número de operações a serem efetuadas no caixa direto.

Noutro dia, num estabelecimento bancário, fui o primeiro a solicitar senha para atendimento no caixa direto, e qual não foi minha surpresa ao ver outros clientes sendo chamados à minha frente para serem atendidos.

Indignado, procurei saber o porquê daquela preterição, e soube que, pelo número de operações que eu faria (duas), outros clientes estavam sendo atendidos prioritariamente. Inconformado, protestei, mas recebi a sugestão de um dos caixas: ”Vá queixar-se à Dilma”.

Tenho absoluta certeza de que a Presidenta Dilma Roussef não aprovaria esse procedimento do estabelecimento bancário, ciosa que tem demonstrado ser, em seus discursos, da necessidade de respeito às instituições democráticas.

Revogar o respeito à fila indiana, uma instituição universal, corresponderia, a meu ver, a revogar a lei da gravidade. Poderíamos saltar de edifícios, porque flutuaríamos sem nenhum risco fatal...

Imaginemos um país onde o mais poderoso seria alçado a privilégios no atendimento. Onde a classificação por pontos obtidos em concursos públicos dar-se-ia mediante a adoção de critérios aleatórios por parte do órgão encarregado de fazer a seleção, em benefício do mais forte. Um país onde imperaria o absolutismo, a lei do leão.

Parece coisa pequena, mas eu tenho certeza de que, onde não há respeito à fila indiana, pode vicejar a autocracia em todas as suas variantes: ditatorial, despótica, tirânica ou totalitária.