A vida vista da janela
Era apenas uma viajante...dentro daquele minúsculo automóvel, observava a vida. Levava uma vida itinerante ao lado dos pais que estavam sempre de passagem.
Sabia de uma coisa: a vida era uma eterna passagem. Fosse de idas e vindas; fosse só de idas.
Rodou, naquele pequeno carro, todo Brasil,do Iapoque ao Chuí. Em cada cidade que ficava, conheceu as mais diferentes pessoas, os mais diferentes mundos.
Cresceu desse jeito. Gostava. Era a sua vida. A sua escola era a geografia viva do Brasil; das pessoas.
Os pais eram uma espécie de caixeiros viajantes de quatro rodas. Vendiam, trocavam mercadorias as mais diversos. Seguiam o que fizeram os seus antepassados.
Gostavam do que faziam. Não pensavam em pousar em nenhum solo firme. Sentiam-se livres assim. Não havia perturbação de nenhuma espécie. Eram felizes e se amavam. Queriam passar isso para sua filha.
E sua educação ? Sabiam que podiam ser questionados sobre isso. Mas, estavam lhe oportunizando a melhor que podiam: a escola da vida. Estavam lhe preparando para vida, para que pudesse se defender do que visse. Seria seu próprio escudo e armadura.
Eles, sim, ensinaram-na a ler e a escrever com o material que dispunham: livros usados, revistas, a boa vontade de ensinar. Ela, por sua vez, era muito inteligente, aprendia tudo sozinha; autoditada e muito questionadora, fazia-se muitas perguntas e perguntava muito, o que irritava um pouco seus pais.
Via naquelas diversificadas vegetações ao longo do Brasil, uma infinidade de possibilidades: fauna e flora.
Imaginava vidas naquelas paisagens; imaginava a si mesma no meio daquele infinito mundo.
E o que falar das pessoas ? Em cada cidade que paravam, conheciam pessoas diferentes, tipos até muito peculiares. Mas, todos muitos alegres e que lhes ensivam suas culturas, suas sabedorias, seus mundos, enfim.
O mundo daquela menina era muito rico, apesar de não ser rica.
O vento que vinha com a velocidade do carro e que ventilava o seu rosto, felicitava-a.
A vista vista da janela, multicolorida, diversificada, humana, foi sua escola, e, por muito tempo, seu modo viver.
Cresceu assim....até que um dia, os pais não puderam mais continuar viajando com ela. Deixaram-na na casa da vó e seguiram viagem.
Daí em seguida, sua vida não foi mais a mesma. Solo firme...mas, os sentimentos, nem tão firmes.
Resolveu, ver a vida da janela, até que um dia resolveu, sair dela para poder, plenamente, viver.