FRUTA NO PÉ .

 

   Não pude deixar de sorrir quando percebi que alguns meninos subiam numa árvore tentando animadamente colher uma manga madurinha, tentadoramente apetitosa e que sem nenhuma dúvida valia à pena correr alguns riscos para saborear aquela doce fruta.

   Penso que tem certas frutas que só são realmente saborosas, uma delícia dos deuses quando a gente lambuza as mãos, a boca e portanto, fica inevitável que a camisa não recolha várias manchas de uma  tentadora fruta.

   Hoje em dia sou mais favorável aos sucos naturais embora, quando era molecote tenha pintado e bordado pulando muros e escalando árvores em busca de frutas que, hoje até acho graça, na maioria das vezes nem maduras estavam.

   Não sei dizer qual é a mola que impulsiona um molecote a subir numa árvore para colher qualquer fruta, em alguns casos até se equilibrando perigosamente em galhos um pouco frágeis.

   Na minha época de traquinagens me lembro perfeitamente de muitas vezes ter sido o primeiro a atingir o ponto mais alto de uma árvore, geralmente mangueiras, mais pelo prazer de conquistar as alturas do que saborear a fruta propriamente dita.

   Houve uma ocasião  em que conquistei certa fama por não ter medo de pular de galho em galho em qualquer tipo de árvore. Houve um momento em que essa reputação ficou um pouco arranhada por conta de um episódio interessante.

    Observado por alguns meninos e uma ou outra menina, subi com a maior facilidade numa mangueira do quintal de um dos amiguinhos em busca da mais dourada das mangas. Minha intenção era dar a fruta para uma linda garotinha , até meio tímida mas que tinha certeza me olhava com certa simpatia .

   Tudo deu certo, colhi a fruta que fiz questão de enfiar por dentro da camisa para entregar pessoalmente a minha eleita. Acontece que quando estava descendo dei de cara com um bicho de asas e olhos enormes que me olhava atentamente.

   Naquele momento, pelo susto jurava que o tal bicho me olhava enfurecido. Provavelmente era uma inofensiva cigarra mas , na minha mente parecia muito mais um dragão de sete cabeças, embora ele tivesse só uma.

   Paralisado pelo susto e o medo não sabia o que fazer. Os meninos pediam que jogasse a manga, a garotinha que tinha escolhido para dar a fruta me olhava com olhar aflito e eu, bem, não conseguia disfarçar que estava apavorado.

   Sei que gritei, chorei, esperneei, pedi ajuda aos bombeiros e  nada se resolvia, ninguém se mexia, nem os meninos , nem a cigarra e muito menos eu .

   Depois de certo tempo , que aliás me pareceu uma eternidade o tal bicho, que na minha imaginação parecia um dragão de sete cabeças , resolveu bater as asas e voou para bem longe, certamente incomodado pelo escândalo que estava fazendo.

   O certo é que consegui descer da árvore e aí percebi que minha camisa estava molhada, quer dizer ensopada com o sumo da manga.

   Muito sem graça dei o que sobrou da manga  para a menina que deu um sorrisinho e saiu correndo para sua casa, talvez para fazer um suquinho com o que sobrou daquela fruta dourada.

   Alguém já me disse que colher frutas direto de uma árvore é outra coisa. A fruta fica mais gostosa, mais doce e dizem até que é muito melhor para a saúde.

   Uma de minhas mais doces lembranças me trás de volta aquela manhã fria e com intensa neblina no sitio de um amigo. Tinha levantado bem cedo e a convite dele  fomos passear pelo quintal e aí paramos diante de  um pé de tangerinas.

   Elas estavam tentadoramente lindas e não resistindo, colhi uma delas, uma das mais bonitas. Realmente uma delicia, um mel e com o detalhe de estar com os gomos geladinhos.

   Faz um bom tempo que não colho nenhuma fruta num pé. Talvez, brevemente vá passar uma semana num hotel fazenda e espero que lá encontre mangueiras e quem sabe jabuticabeiras carregadinhas.

    Aí, com certeza vou fazer a festa. Só não vou subir em nenhuma árvore pois já pensou se dou de cara com uma cigarra ou uma lagarta ou ainda um macaquinho travesso ?

 

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(.....imagens google.....)

WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 11/01/2011
Reeditado em 29/03/2013
Código do texto: T2723244
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