CRISTO REDENTOR
É janeiro, verão, sol ardendo a pela morena das mulatas espalhadas pelo Brasil a fora, bem como tornando rosada a pele dos gringos que aqui estão. Sol, praia, baladas, bebidas, fitness. Calma, nem tudo é tão belo, perfeito e afrodisíaco assim. Como sabemos e é noticiado em janeiro todos os anos pelo Bonner, Casoy, Evaristo, Paulo Henrique Amorim e demais apresentadores mequetrefes desses telejornais de quinta categoria, o mês de janeiro no Brasil também reserva grandes chuvas, e, aliado com a má projeção urbanística das cidades, o que resta paralelamente a essa aura de férias e verão, são também os soterramentos, desabamentos, enchentes, mortes e resgates... que pena, mas que verdade!
Por favor, não me venha jogar a culpa em Deus, nem dizer que tais chuvas são obra da divindade. Acabe com isso, meu querido! A culpa é mais uma vez da política – até me cansa bater novamente nessa tecla –, mas é. A natureza responde com o mesmo tom de voz e ignorância que é obrigada a ouvir e sentir. Amigo, a política tem ofícios que a religião não é capaz de sequer amarrar as suas chuteiras. Inclusive, se você analisar a história, as religiões foram e são tão perversas quanto os políticos.
Desde já, antes que me venha alguns babãozinhos de ovos, puxa-sacos, bajuladores de políticos ou partido qualquer, algum cego de plantão, que tem olhos mas não sabe enxergar, que tem corpo mas não sabe sentir, ou até mesmo algum fanático religioso de araque, Padre isso, Pastor aquilo, Bispo fulano... que tem mais nome artístico que missionário, prestem atenção: se Jesus fosse essa fantasia que vocês pensam que ele é, essa alegoria criada por vocês, o Rio de Janeiro, que é nosso cartão Postal e tem um Cristo Redentor do tamanho do “mundo” de braços abertos, não seria a cidade mais perigosa do Brasil.
Caro amigo, a fé de quem tem fé está nos braços de quem faz do homem a humanidade, não na esperança daqueles que rezam por rezar com o medo da morte e encontrar um inferno qualquer pela frente. A vida já é um dos vários infernos que há por aí transando apaixonadamente com a maldade humana. E as coisas boas da vida como bares, cabarés, sexo, bebidas, madrugadas viradas, música, dança, arte... existem como exceção de uma vida careta e pacata, vividas por 8 horas de sono, mais 8 de trabalho e 8 de trânsito, com um mês de férias para afogar as mágoas de uma vida dura e sem sossego. Deve ser muito triste, dormir uma noite de férias num verão intenso e acordar soterrado com o desabamento de um morro cobrindo o seu barraco. Pois é, me deprime saber que enquanto os barrancos desabam sobre essas casas e barracos pela periferia do Brasil, os políticos de Brasília descansam na piscina de suas casas de luxo em belas praias e belos campos.
Me responde aí; quem está mais perto do céu, o traficante ateu da favela carioca ou o deputado religioso fervoroso que recebe e entrega propina para desviar fundos de investimentos públicos da educação? Ah, parceiro, me erra, pô!...
Por fim, para concluir, quero só corrigir uma informação: do fundo do meu coração, me desculpem a confusão, pois a cidade mais perigosa do Brasil não é o Rio de Janeiro, mas Brasília. Sendo assim, por favor, meu Deus, transfira para lá o corcovado com o Pão-de-Açúcar, o bondinho e tudo mais... e não se esqueça de pô-los entre o Planalto Central, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal. Por favor, não se esqueça, meu Deus! Brasília, sim, precisa de um Cristo Redentor. Detalhe, se tamanho for documento, triplique o tamanho do Cristo!
Você sabe qual é a diferença entre a Praça dos Três Poderes em Brasília e o complexo do Alemão no RJ? Isso mesmo, minha gente, são tão idênticos que a diferença entre eles é igualzinha a de um espelho se olhando no espelho e dizendo: espelho, espelho meu, tem alguém mais...