DE PÁSSAROS E GENTE
Desde menino, me incomodava bastante o costume que têm muitas pessoas de aprisionar, em gaiolas, pássaros das mais diversas espécies. Quando da minha adolescência, eu tinha vários colegas e um primo que tinham o hábito de cobrir as gaiolas com uma capa de pano, levando-as à rua. Diziam que, assim, os passarinhos ficavam mais mansos, o que, no fundo, significava que eles se tornavam mais acostumados à prisão.
Em minha casa, mesmo, eu tinha que argumentar com meu pai, que sempre teve dois ou três coleiros em gaiolas. Muitas vezes tentei, sem sucesso, demovê-lo desse hobby de “criar” os pobres animais. Nessas ocasiões, ouvia as mesmas justificativas para esta atitude. Dizia ele que, se os soltasse, eles não saberiam defender-se e morreriam de fome, de vez que, muito cedo, foram capturados e colocados em cativeiro. Eu retorquia que assim era porque algum “espírito de porco” aprisionara os pássaros e os dera a meu pai, a título de presente.
Conversando com as pessoas que colecionam passarinhos, ouvimos os mais absurdos pretextos, como forma de explicar o porquê de tão maldosa prática. Há os que dizem que tratam os pássaros muito bem, dando a eles do bom e do melhor, o que lhes daria condições de vida mais satisfatórias que as que tinham quando em liberdade, o que, convenhamos, é de um cinismo ímpar. Alguns outros, não menos dotados de singular desfaçatez, alegam que os pássaros aprisionados ficam a salvo dos predadores e poderíamos citar uma série de outros argumentos, todos eles curiosos, se não fossem ridículos.
Essas desculpas para manter os pequenos animais em gaiolas cumula com a tese segundo a qual seria essa a maneira de, a qualquer tempo, poder apreciar a beleza de seu canto, um deleite aos ouvidos sensíveis e de bom gosto. Ora, amigos, temos que concordar que é ir longe demais.
Seguindo esse “raciocínio”, há de acabar aparecendo quem se ache no direito de encarcerar pessoas que tenham uma voz sabidamente privilegiada, como seria o caso de Whitney Houston, Neil Diamond, Celine Dion, Bill Medley e outros.
São coisas do civilizado ser humano.