De Noronha e tubarões

Itamaury Teles

A bem da verdade, não era um programa que estava em minhas prioridades. Achava que fosse um reles amontoado de ilhotas vulcânicas, sem grandes atrativos. Mas logo vi que estava enganado. O arquipélago de Fernando de Noronha – onde permaneci por quatro dias, conhecendo sua rica fauna, suas riquezas naturais, suas belas praias e o mar de águas transparentes e de um azul indescritível – é com justiça, um paraíso ecológico.

Motivou-me tão somente o fato de estar em Natal, gozando as benesses do acúmulo de milhas voadas, e a apenas uma hora de voo de um local escolhido pela UNESCO como Patrimônio Ambiental da Humanidade.

Garimpei por lá algumas informações interessantes: a área total do arquipélago é de 26 quilômetros quadrados, sendo que a ilha principal mede aproximadamente 10 mil metros de comprimento por pouco mais de mil e quinhentos metros de largura. A Transnoronha – BR-363 –, que corta toda a parte habitada da ilha, tem apenas sete quilômetros e é a menor rodovia federal do Brasil. Ao longo de todo o percurso há passeio para pedestre, com recantos para descanso e alguns mirantes.

Ônibus partem de cada extremidade da rodovia em intervalos de 30 minutos, mas o que se vê muito em Noronha são os buggies de aluguel pilotados por turistas, circulando pelas estradas vicinais que sempre terminam em paradisíacas paisagens, de tirar o fôlego.

O ex-Território de Fernando de Noronha, cuja capital era a Vila dos Remédios, hoje faz parte do Estado de Pernambuco, embora fique mais próximo do Rio Grande do Norte. Apenas razões políticas justificam este fato.

Durante a minha estada, percorri a pé várias trilhas, mergulhei de snorkel na Praia do Sueste – aonde vimos dois pequenos tubarões e enormes e sonolentas tartarugas de pente -, na do Sancho e na piscina natural da Praia de Atalaia; circulei de buggy, visitando resquícios de fortificações; fiz passeio de barco para fotografar os golfinhos rotadores, que se mostram exibidos e em grande quantidade.

Mas, o melhor do passeio, sem dúvida alguma, foi o meu batismo como mergulhador em águas profundas. Fomos de barco até o local denominado Buraco do Inferno, que, paradoxalmente, é um paraíso. Ali, recebemos as primeiras instruções de como usar os equipamentos, dos sinais de comunicação com o instrutor que nos acompanha em todo o mergulho, dos sinais indicativos da presença de tubarões, raias e golfinhos. E, principalmente, de como respirar pela boca, como retirar água da máscara e como fazer a equalização em função da pressão nos tímpanos.

Para nos tranquilizar no mergulho de 13 metros de profundidade, onde poderíamos encontrar até tubarão, o instrutor alertou-nos para que mantivéssemos a calma, pois os de Fernando de Noronha não são perigosos, porque normalmente se alimentam bem.

Saltamos, em pequenos grupos. Com roupa especial e pesado equipamento, que incluía pé-de-pato, máscara, cilindro de ar, lastro de pesos na cintura e colete inflável, boiamos um pouco, até nos acostumarmos com uma respiração mais pausada e tranquila.

Depois, os coletes são desinflados e a descida tem início. É apavorante, em princípio. Só nos ocorre a ideia de que não voltaremos vivos. Depois, tudo se normaliza, exceto a pressão, cada vez maior nos ouvidos, requerendo a equalização, que consiste em apertar as narinas e pressionar o ar pelos ouvidos. Fui dos poucos a encontrar um grande tubarão no meu mergulho de meia hora. Ele nos olhou de banda e nem deu bola, continuando seu trajeto em busca de alimento de sua predileção. Certamente era vegetariano ou não apreciava carne de segunda...

Como bem disse o escritor e dramaturgo francês Victor Hugo, “viajar é nascer e morrer a todo o instante”. E há algo melhor que isso?

Itamaury Teles
Enviado por Itamaury Teles em 11/01/2011
Código do texto: T2721575
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