NÃO PENSO, LOGO COPIO

José Neres

É do conhecimento de todos que pesquisar é uma tarefa árdua, que exige tempo, dedicação e uma grande dose de paciência. Muitos professores, como forma de complementação dos assuntos estudados em sala de aula, ou mesmo como preparação para o entendimento de aulas vindouras, costumam passar trabalhos de pesquisa para seus alunos.

A ideia é válida, a iniciativa é louvável, mas nem sempre os resultados são os esperados ou pelo menos os desejáveis. Quando não é pedido um trabalho escrito como forma comprobatória da pesquisa, o professor constantemente se depara com uma grande quantidade de alunos que não leram sobre o assunto proposto. Nesse caso, todo o planejamento tem que ser instantaneamente alterado, sob o risco de transformar o que seria uma construtiva discussão em mero monólogo ou, em alguns casos, em um enfadonho solilóquio.

Mas a situação tende a piorar quando o professor, no afã de assegurar-se do comprometimento do alunado para com a pesquisa, decide exigir um trabalho escrito sobre o assunto proposto. Com as facilidades tecnológicas oferecidas pelo mundo contemporâneo, as chances de o professor receber um texto originado da pesquisa, filtrado pelos conhecimentos adquiridos e redigido pelo próprio aluno são drasticamente reduzidas. Em contrapartida, os riscos de receber um texto integralmente baixado da internet, ou montado com fragmentos de inúmeros sites são multiplicados ao infinito.

Não são raros os que argumentam que copiar trabalhos não é exclusividade de hoje, pois, quando não havia internet, os alunos copiavam de enciclopédias, livros, jornais ou revistas, transcrevendo linha a linha as informações contidas na chamada fonte de pesquisa. Isso é verdade! Mas também é verdade que há uma quilométrica diferença entre fazer uma pesquisa séria e simplesmente colar um texto da WEB em uma página da Word ou, mais fácil ainda, imprimir uma página eletrônica, muitas vezes escolhida aleatoriamente após alguns segundos de busca no Google, fazer uma capa e por o próprio nome como autor em um texto do qual nem mesmo se leu o conteúdo.

Quando um estudante utiliza as inúmeras possibilidades de pesquisa na internet para produzir o próprio texto, ele está progredindo. Mas quando copia um texto com o fim deliberado de enganar o professor e de conquistar uma boa nota, ele comete no mínimo dois delitos: um contra os direitos autorais, outro contra si próprio, pois enganar a si mesmo pode ser uma prova de debilidade intelectual em alto grau.

O pior é que a onda de plágio vem ganhando proporções gigantescas e vem inundando de cópias espúrias os diversos graus da educação, desde o ensino fundamental até os cursos de pós-graduação, mestrado e até doutorado. Mesmo com o aperfeiçoamento dos mecanismos de detecção de cópias, é comum encontrar soluções “rápidas e práticas” para burlar os programas que teimam em denunciar os fraudadores.

No interessante livro “Como evitar plágio em monografias”, o jornalista, escritor e editor Adalberto Franklin traz boas dicas para o uso ético das ferramentas da internet, mas nenhuma das sugestões do autor surtirá efeito se alunos, professores (sim, porque eles também copiam de forma indevida) e a sociedade em geral não se conscientizarem de que a pesquisa é muito mais do que uma tarefa sáfara e corriqueira, mas sim um instrumento de crescimento intelectual.

O vício do plágio e a certeza da impunidade levam a um paradoxo, afinal de contas, seu não penso, copio, porque penso que minha ação não será descoberta. Mas se ela for descoberta, tudo continuará da mesma forma que estava antes. É o famoso pacto da mediocridade, logicamente copiado de alguém.

José Neres
Enviado por José Neres em 10/01/2011
Código do texto: T2721289
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