O EMBATE DE SAIA.
Quando a ex-atleta Patrícia Amorim assumiu a presidência do Flamengo, muitos torcedores ficaram de ‘cara feia’, por não acreditarem numa ‘cartolagem’ de saia. Não se sabe ao certo se o futuro do rubro negro é alvissareiro, até porque o clube ainda não decolou com a dirigente feminina. O time teve uma participação pífia no campeonato brasileiro e chegou às últimas rodadas com risco de rebaixamento, entretanto, isso não ocorreu porque a situação de outras equipes era bem pior.
Em que pese à revoada do maior ídolo da torcida no recente ano de 2010, não se pode dizer que o flamengo não se esforçou para ter maior desempenho, até porque conquistou a Copa Brasil, o que lhe credenciou a participar da libertadores em 2011. O fato é que Zico, ao transitar alguns meses pela Gávea, saiu de lá proferindo efusivos discursos que anunciavam incompatibilidade com alguns membros da diretoria, sem, contudo, proferir algo que atingisse a dirigente maior daquela entidade esportiva, preservando-a nos seus ataques.
Falo dessa dirigente porque se trata de um marco histórico. Não há dúvida de que a eleição de Dilma Roussef foi algo notório e de profundo significado para a luta feminina desenvolvida em muitas décadas nesta Nação tupiniquim. Entretanto, Patrício Amorim, também deixou sua marca, ao eleger-se presidente do clube de maior expressão nacional em termos de contingente de torcida. Não porque o cargo é exclusivo de varão ou porque as incumbências são mais condizentes com a coordenação de um homem, mas, principalmente, porque o mundo do futebol está globalizado e passa por um momento significativo, eis que vivemos uma época de metamorfoses nessa área esportiva, já que os times passam por transições nas suas formas de gerir e direcionar o futebol como um todo, em face da necessidade dos clubes se tornarem empresas e, como tal, equacionar o fluxo financeiro com equilíbrio e segurança.
No item preparação interna, a Patrícia Amorim não tem deixado a desejar, por manter suas categorias de base, para que craques do futuro possam aparecer nos seus quadros amadores. A Copinha São Paulo, tem demonstrado que o elenco possui jogadores de futuro. Dizem também que ela trabalha para melhorar as condições estruturais do Flamengo, inclusive no campo do desporto amador.
A maior surpresa que se evidenciou nos últimos dias foi a sua destreza em envolver-se na negociação do repatriamento do jogador Ronaldo Gaúcho, que por se um astro, sempre foi desejado por muitos clubes, especialmente por Grêmio, Palmeiras e Flamengo. Muito se falou nestes últimos dias sobre essa milionária contratação. O empresário (irmão do jogador), sempre disse que os clubes deveriam negociar primeiro com o Milan. Grêmio e Palmeiras; apressaram-se em oferecer as condições econômicas para o jogador, mas se esqueceram que nada adiantava falar com o motorista, pois quem ia decidir era o proprietário do automóvel.
Assim, Paulo Odone (presidente do Grêmio) e Luiz Gonzaga Belluzo (presidente do Palmeiras), ficaram de mãos abanando vendo o craque se encaminhar para a Gávea, pois Patrícia Amorim entendeu o recado do empresário e foi procurar a verdadeira fonte da negociação, ou seja, o Presidente do Millan, que, aliás, só veio ao Brasil com esse propósito. Assim, nesse embate entre a maioria varão, venceu aquela que veste saia, numa demonstração de que as mulheres, quando querem, são fortes e candidatas ao trono, pois percebem as sutilezas e os detalhes que podem resultar no sucesso de um empreendimento.
O importante é que aos poucos estamos vendo a evolução feminina, de forma que a mulher tem avançado nas suas conquistas neste mundo competitivo. Isso demonstra que caminhamos para o desmoronamento das estruturas machistas que por muito tempo impediram que nossas companheiras chegassem ao ápice. As mulheres estão no futebol (como dirigentes e como jogadoras), as mulheres estão na política (como parlamentares e como governantes), as mulheres estão nos quartéis (como soldado e como detentoras de patente), as mulheres estão em todo lugar e demonstram que não é a fragilidade das suas forças físicas que as impedem de triunfar.